A obra definitiva - Cesário Verde por Ricardo Daunt
Para os leitores de poesia portuguesa ou os amantes da
poesia de Cesário Verde e para a produção literária esta é, sim, uma grande
notícia. O trabalho extenso de Ricardo Daunt sai agora em livro e revela o
poeta português por inteiro. Na certeza de que talvez não haja mais o que se
descobrir em termos de materiais alguma coisa que seja capaz de por em xeque o
que já se foi pesquisado sobre Cesário, o livro traz com subtítulo “Texto
definitivo”; aí estão reunidos toda poesia verdiana, cartas – que não são tantas
– e detalhes biográficos agrupados numa minuciosa tábua cronológica.
A primeira antologia de Cesário Verde que reúne a poesia
escrita entre 1873 e 1886 foi organizada por Silva Pinto e publicada em 1887
num tiragem íntima, apenas para amigos do escritor; a edição pública só veio
sair cinco anos depois. Os 22 poemas que se apresentam em O livro de Cesário Verde foram agrupados em duas seções, “Crise
romanesca” e “Naturais” – divisão que obedeceu indicações do próprio autor e
critério muito particulares do amigo antologista. Apesar do trabalho digno de
nota de Silva Pinto, muitos poemas chegaram a ficar da então antologia.
Depois outras edições surgiram, mas sempre tomando como base
a publicação de 1901. As edições que não adotam como procedimento de organização
a de Silva Pinto guiam-se ou pela mescla de poemas que ficaram de fora da
antologia ou pela compilação à parte, como apêndice. Esses processos de organização
fez que até o número de poemas deixados Cesário sofresse com problemas de
contagem.
Ricardo Daunt, entretanto, movido pelo faro de pesquisador,
esteve atento a esses detalhes e buscou superar lacunas. No extenso tempo da
pesquisa analisou centenas de documentos originais bem como a vasta bibliografia
até chegar a uma edição que fixa a produção do poeta precursor do Modernismo de
acordo com a semelhança formal e temática dos poemas acompanhados, todos, de
notas elucidativas.
Um detalhe no trabalho de Daunt é considerar, por exemplo, o
poema “Provicianas”, que as demais antologias sempre o incluíram com o mesmo
destaque concedido aos poemas “conclusos”, é readmitido como inacabado. Daunt
considera que além de toda e qualquer suposição, o trabalho não quer “forçar”
uma ampliação do conjunto de poemas do poeta e, por esta razão prima considerar
sensato não designar como poema todo e qualquer texto que próprio Cesário não autorizou
que o fosse.
O trabalho ora publicado é resultado da tese de doutorado de
Ricardo Daunt, que depois disso já realizou dois pós-doutoramentos na área de Literatura
Comparada: o primeiro sobre o Modernismo português e o segundo sobre as
poéticas de Fernando Pessoa e T. S. Eliot. É autor de uma vasta obra, incluindo
romances, novelas, contos e ensaios, dedicando-se ao estudo das poéticas
da modernidade luso-brasileira.
Obra poética e
integral de Cesário Verde (1855-56) – Texto definitivo percorre um
para-além dos estudos desenvolvidos pelo seu autor no doutorado, porque reelabora
um contexto histórico e permite rever a poesia de Cesário Verde à luz do seu
tempo, seja pelo processo adotado na organização dos textos, seja nas notas
esclarecedoras, seja ainda nas cartas aí compiladas.
Abaixo editamos alguns poemas e cartas do poeta presentes na edição de Daunt.
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