Toda a poesia, de Paulo Leminski

Por Pedro Fernandes

Paulo Leminski. Foto: Dico Kremer



Paulo Leminski. Não é necessário revirar muito a web para ler e saber sobre o poeta nem é preciso ir muito longe também para encontrar um verso, uma frase, um poema, qualquer coisa que seja de sua autoria. Confirma-se hoje o que há muito nunca se suspeitou: Leminski está já entre os grandes poetas brasileiros. Dizemos isso porque o escritor foi apresentado na cena literária como sendo fazedor de uma literatura menor, isso ao lado de nomes como Ana Cristina Cesar, Chacal, Cacaso, entre outros.

O grupo, entretanto, contribuiu para ‘desinfetar’ o lugar do poema no Brasil. É que, mesmo depois da virada modernista quando a poesia ganhou outras feições e saiu do lugar do empolado, que fazer verso ainda era coisa de ‘iluminado’; a poema ainda era o texto dado para poucos e sua circulação feita em espaços próprios. Noutras palavras, despojou-se o verso, mas o poema permaneceu de paletó e gravata – estamos pensando aqui em nomes como o de Carlos Drummond de Andrade. Então, os marginais reinventaram o lugar do poema; era de bom tom levar o poema qualquer parte, já que é em qualquer parte está a poesia, como sondou o próprio Cacaso numa de suas entrevistas.

O resultado da empreitada parece surtir efeito somente hoje; o poema marginal, caído nas graças do grande público, se firma como o mais lido, comentado e compartilhado na web. Se o mimeógrafo foi no seu tempo o grande símbolo de reprodução para distribuição da poesia nesses lugares não convencionais, agora, em tempos de crise do papel, por toda política ambientalista, e o modismos dos espaços virtuais, o computador vai se firmando como o suporte contemporâneo para expansão da política marginal e tem servido mesmo como base descentralizadora do fazer poético. A febre Leminski é, portanto, algo não gratuito. Talvez porque só agora lhe deram ouvidos podem ver-ler a grandiosidade do que os poetas dessa geração fizeram. No caso do poeta de Curitiba, o verso curto, o poema brincalhão, zombeteiro, o trocadilho que desestabiliza o sentido da palavra, ou mesmo o comedimento de outra boa parte das vezes têm servido como contribuição para que sua obra tenha caído no gosto popular.



Marcando esse reconhecimento é que chega às livrarias até o fim de fevereiro, um catatau, que não é romance de mesmo nome escrito por ele, mas uma antologia com mais de 600 poemas de Paulo Leminski, já intitulada Toda poesia e anunciada pela mídia como um dos grandes acontecimentos literários de 2013 no Brasil. Não apenas pela popularidade do poeta, mas a obra vem oxigenar o mercado livreiro sobre poesia que vem bem das pernas há certo tempo. 

Talvez seja mesmo exagero – esse nunca foi mesmo um mercado de grandes consumidores – mas estamos nos referindo a qualidade do que se publica. Há muita coisa medíocre sendo vendida como poesia de primeira estirpe e, logo, o Toda poesia será cumprirá esse papel, mais uma vez, de revitalização. É fato ainda que boa parte da obra de Leminski já estava há certo tempo fora de catálogo e traz ampliações para alguns títulos, como por exemplo, a reinserção de alguns poemas que ficaram de fora da última edição de Caprichos & relaxos.

Alguns dos títulos que integram o novo livro têm muito do que não chegou ao grande público como é o caso dos poemas de Quarenta clics em Curitiba, livro editado artesanalmente e com pequena tiragem nos fins da década de 1970 que são apresentados ao lado de trabalhos póstumos, mas que também não tiveram o reconhecimento devido, como Winterverno, de 2011. 

E como tem sido comum às edições contemporâneas, em que o texto do autor parece ser insuficiente se se apresentar sozinho, Toda poesia vem com ensaios de Caetano Veloso, comentando a livro de 1983, Caprichos & relaxos, de Wilson Bueno, Haroldo de Campos, José Miguel Wisnik e o ensaio também de 1983, da Leyla Perrone-Moisés, “Leminski, o samurai malandro” em versão revista sete anos depois pela estudiosa. O texto de apresentação é assinado por Alice Ruiz, viúva do poeta, que relembra a trajetória do poeta.

Ligações a este post:
>>> Pela celebração do 14 de março de 2010 (quando a única rede social que o Letras dispunha era o Orkut) estivemos por todo dia publicando versos de Leminski, os quais, ainda bem, transcrevemos para o blog em dois posts - aqui e aqui.
>>> Na página do Letras no Facebook temos organizado um álbum com 'tiradas' do poeta, para ver, ler e compartilhar, aqui.

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #607

Boletim Letras 360º #597

Han Kang, o romance como arte da deambulação

Rio sangue, de Ronaldo Correia de Brito

Boletim Letras 360º #596