Fernando Namora
Fernando Namora. Foto da década de 1960. |
A particularidade de Fernando Namora nas literaturas de
língua portuguesa é sua pluralidade de escritas, a vasta obra deixada e a
capacidade de trânsito entre o erudito e popular, pelo número de aceitações de
seus livros. Teolinda Gersão lembra bem em depoimento a um programa para a TV
portuguesa que Namora esteve na lista dos Best-seller em Portugal e com a
radical diferença dentre os livros do tipo: é que a literatura do escritor
português é ‘sadia’ esteticamente e, por isso mesmo, objeto artístico de
grandeza significativa. Toda a vasta obra e os trânsito entre gêneros desenhado
pelo escritor talvez seja o resultado de alguém que teve na vida duas tarefas
às quais se dedicou com afinco: a medicina e a escrita. Num depoimento de José
Saramago, em que o escritor lembra os vários encontros com o autor de Nome para uma casa, livro de poesia, um
dos gêneros cultivados por ele, comenta a forma com que se entretinha: “Bater-lhe
à porta, interromper-lhe o trabalho, era algo que não me passaria pela cabeça. Nem
sequer quando ele próprio me deu razoes para pensar que seria bem acolhido, fiz
eu o gesto de que, com toda a probabilidade, poderia ter nascido uma amizade
sólida.”
Fernando Namora nasceu em abril de 1919; filho de
camponeses. Concluiu os estudos iniciais em escolas de Ansião e depois foi para
Coimbra. A ida para esta cidade lhe permitirá já a escrita de seu primeiro
romance, então com vinte anos, As sete
partidas do mundo. Também em Coimbra, apega-se a Jorge de Sena, outro
importante nome da cena literária portuguesa e redige um pequeno jornal
manuscrito para o liceu e aprofunda-se naquilo que será, mais tarde, mais que
um hobby, as artes plásticas. Dirige o
jornal acadêmico Alvorada e durante
1935 redige seu primeiro livro, Almas sem
rumo, uma antologia de novelas que permanecerá inédita até mais tarde.
A carreira das letras que vai assim tomando forma não desvincula
da profissão que exerceu integralmente, a medicina. Já em 1936, Namora aluno do
curso preparatório também em Coimbra. No ano seguinte, depois de chegar às
livrarias trabalhos de Carlos de Oliveira e Artur Varela, também se anuncia a
chegada de sua novela Pecado venial,
que também como a antologia de 1935, não chega a ser publicada. O que se
publica mesmo é seu primeiro livro de poemas, Relevos. Agora, Namora está envolvido com a edição de um periódico por
nome Cadernos da Juventude, que
chegou a ter apenas um número e assim mesmo foi apreendido e destruído antes de
posto à venda. Também no ano em que se dão esses fatos, um positivo e outro
negativo, contrabalança-se os pesos entre ruim e bom, com a publicação de seu
romance As sete partidas no mundo,
sucesso de crítica e vencedor de dois importantes prêmios, o Almeida Garret e o
Mestre António Augusto Gonçalves, este último pelos trabalhos em artes
plásticas para a edição.
Codirige a revista literária Altitude; e, 1940, publica outro livro de poemas, Mar de sargaços. Esse período é de fundamental
importância na carreira do escritor e para o plano literário português porque
nasce aí o que ficou conhecido com neorrealismo, um período lido pela crítica
como de extrema significação para as letras portuguesas que vai influenciar
toda uma grande geração de escritores. É publicado, dois anos depois, o romance
Fogo na noite escura e escreve a
novela Casa Malta; também realiza sua
primeira e única exposição individual de pintura.
Cena do filme Domingo à tarde, baseado em trabalho homônimo de Fernando Namora; trabalho conduzido pelo cineasta António Macedo e lançado em 1966. Já antes, em 1942, Jorge Brum do Canto havia levado às telas Retalhos da vida de um médico. O filme de Jorge Brum chegou a ser selecionado para o Festival de Berlim, já Domingo à tarde esteve no Festival de Veneza. |
Quando muda-se de Coimbra para Castelo Branco e daí para o
Alentejo, Namora publica Minas de San
Francisco, que fora escrito em Monsanto por volta de 1945; quatro anos
depois, a primeira série de Retalhos da
vida de um médico, obra que lhe valerá o Prêmio Vértice. Nesse mesmo ano
viaja a Paris para uma exposição internacional com artistas plásticos médicos. Noite e madrugada – um de seus romances
bem conhecidos – é editado em 1950, isso enquanto projeta capítulos para um
livro que nunca chegou a ser concluído, Memórias
imaginárias de um médico. Depois de então, seguem, O trigo e o joio (romance), O
homem disfarçado (romance), As frias
madrugadas (antologia com todos os livros já publicados), Domingo à tarde (romance agraciado com o
Prêmio José Lins do Rego), Diálogo de
setembro (ensaio), Os clandestinos
(romance), Estamos ao vento
(romance), Cavalgada cinzenta
(viagem), O rio triste (romance), Nome para uma casa (poemas, como já dissemos
antes), Mal amada, bem amada (crônicas)
entre outros.
Toda esta vasta obra costuma ser designada pelos estudiosos como obra de três fases que acompanham de certo modo os ciclos de vida do próprio escritor: o ciclo rural, composto por obras como A noite e a madrugada e O trigo e o joio; o ciclo urbano, marcado por romances como O homem disfarçado e Domingo à tarde; e o ciclo de viagens, onde se abrigam obras como Marketing e Jornal sem data. Outros estudiosos ainda acrescem duas outras fases que são a do ciclo cosmopolita e o ciclo final.
Na sequência, deixamos um catálogo com amostra poética e de alguns trabalhos em artes plásticas de Fernando Namora. Há poemas dos livros Relevos, Mar de sargaços, Marketing e Nome para uma casa.
Comentários