Um ano para Rubem Braga
Rubem Braga num dos bancos do jardim do apartamento de Ipanema, onde morou de 1963 até sua morte em 1990. Foto de Luiz Pinto. Jornal O Globo. |
Apesar de alguém já ter observado que a Feira Literária
Internacional de Paraty (FLIP) de 2013 esqueceu o centenário de Rubem Braga em
detrimento dos 120 anos de Graciliano Ramos, isso porque é o evento mais
conceituado como um espaço para se pensar e discutir literatura no Brasil, o
cronista, que também não tem sorte (dirão outros por fazer aniversário já no
princípio do ano, dia 12) tem seu lugar seu de homenagens muito bem reservado. Mesmo
que concordemos em parte com a visão de Lygia Fagundes Telles (Lygia este ano
fecha seus 90 anos de idade e disse que não tem nada para comemorar) tais iniciativas,
tirando todo o seu mercantilismo capital, tem uma função que julgamos de
importância: o simples fato de retorno à obra do autor, seja pela mídia, seja
pelos estudiosos, seja pelo próprio leitor, ou mesmo de apresentação do seu
nome junto a um grande público que não tem conhecimento sobre o trabalho do
escritor.
Tem de tudo nas comemorações – desde lançamento com inéditos
e reedições até homenagens em pistas das escolas de samba; abaixo um guia com
essas novidades:
- Exposição Livros de Rubem Braga
Na Biblioteca Pública Estadual do Espírito Santo (Av. João
Batista Parra, n.165, Praia do Suá, Vitória) está aberta ao público uma
exposição com obras raras de Rubem Braga – com destaque para duas edições especiais
ilustradas por Carubé, A borboleta
amarela, publicada pela José Olympio com tiragem limitada, numerada e
assinada pelo autor, e Viagem capixaba de
Carybé e Rubem Braga, publicação com numerosos bicos-de-pena legendados
pelo cronista. A exposição é gratuita e aberta ao público de segunda a
sexta-feira, das 8 às 19h até o dia 28 de fevereiro.
- Exposição Rubem Braga – o fazendeiro do ar
No Palácio Anchieta (Praça João Climaço, s.n. Vitória) a
exposição será aberta a partir do 29 de janeiro e vai até o dia 26 de maio com
visitação de terça às sextas, das 8h às 18h, e sábados, domingos e feriados, a
partir das 9h às 17h. A mostra reúne fotografias, desenhos, manuscritos e
vídeos sobre o cronista. Entre os destaques, os cadernos em que Rubem Braga fez
as anotações quando cobriu a Segunda Guerra na Itália, em 1944.
- Homenagem em Escola de Samba
A Escola de Samba Unidos de Jucutuquara, de Cachoeiro do
Itapemirim, fará o enredo/desfile com base na vida e obra do cronista. A cidade
é o lugar onde nasceu o cronista, em 1913. O desfile contará com 22 alas, 5
carros alegóricos, aproximadamente 1,5 mil componentes e samba enredo “A
centenária noite do sabiá da crônica: entre pássaros, palavras, chiquitas e
baianas”.
Lançamentos
Livro de fotografias
(ainda sem título e sem data de lançamento)
Além de escrever crônicas, outro talento de Rubem Braga foi
a fotografia. Desde uma série de autorretratos descobertos recentemente, também
uma série de outros trabalhos do gênero devem vir ao público em formato de
livro. Algumas das imagens chegaram a ser publicadas numa coluna do Segundo
Caderno do jornal Zero Hora. As
imagens foram descobertas nos fins de 2012 em sua cobertura, em Ipanema, no Rio
de Janeiro, e inclui registros de pessoas famosas, como a atriz Tônia Carreiro,
e pessoas comuns.
O menino e o tuim
com ilustrações de Maurício Veneza
O livro deve chegar entre fevereiro e março deste ano pela
editora Record. Trata-se de um conto infantil escrito por Rubem Braga em 1986 e
já há muito fora de circulação. A natureza como condição inversa aos códigos de
contuda humana, conforme explica Antônio Gonçalves Filho, em texto para O Estadão, é explorado por Braga.
Retratos parisienses
Organizado por Augusto Massi e previsto para fevereiro pela
Editora José Olympio o livro traz 31 reportagens escritas entre 1949 e 1952,
quando Rubem Braga foi correspondente do Correio
da manhã em Paris. Os textos aí apresentados, portanto, são inéditos em
livro e apresenta outro lado menos conhecido do cronista: o de crítico de arte
e intelectual. Na época em que esteve na França eclodia o movimento
existencialista e o livro findará por ser também um registro desse período.
Rubem Braga – o lavrador
de Ipanema
O livro está previsto para chegar em março. Organizado por
Leusa Araujo e Januária Alves que apresentam uma seleção de 14 crônicas,
algumas já publicadas pela Editora Sabiá, que o próprio Braga fundou em 1966
com o amigo Fernando Sabino. A escolha das organizadoras foi baseada na ligação
temática dos textos que recobram desde o menino da roça do interior capixaba ao
‘urso’ solitário e solteirão que plantava pitangueiras, goiabeiras, mangueiras
e carlotas na cobertura de seu edifício em Ipanema.
200 crônicas
escolhidas
Mais uma antologia que é antes de tudo, como o livro organizado
por Leusa e Januária um recorte; Rubem Braga escreveu mais de 15 mil textos do gênero.
A mostra é uma reedição publicada em 1977; os textos, na época, foram
escolhidos pelo próprio autor em parceria com o amigo Fernando Sabino. Como Rubem Braga – o lavrador de Ipanema, o
livro é editado pela Editora Record. E deve chegar também em março próximo.
A poesia é necessária
Ainda sem previsão de lançamento, mas vindo pela Editora
Global e organizado por André Seffrin, o livro traz textos publicados por Braga
em colunas da Revista Manchete (entre
1953 e 1956) e Revista Nacional
(entre 1976 e 1990) num total de 160 trabalhos, entre eles, de Mário de
Andrade, Jorge de Lima, Murilo Mendes; alguns dos poemas trazem comentários do
cronista.
Na cobertura de Rubem
Braga
Também reeditado pela José Olympio o livro é do jornalista
José Castelo que escreveu em 1996. Trata-se de um ensaio biográfico composto a
partir de fragmentos das crônicas de Rubem Braga.
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Aperitivo
Aproveitando essa leva toda de homenagens, deixamos abaixo uma das crônicas que fará parte de uma das edições de inéditos preparadas por Augusto Massi para sair ainda este ano. Data de 1952 e foi publicada no jornal Folha da tarde. Inclui uma fotografia do próprio Rubem Braga da atriz Tônia Carreira por quem tinha profunda admiração e a quem se refere o texto. Acompanha o recorte, uma caricatura do cronista feita pelo desenhista Alvarus e que foi capa de Mele: carta internacional da poesia, em 1983.
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