Rubem Braga
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Considerada gênero menor na literatura, porque nesse território,
que desde sempre se seguiu o modelo clássico que considera a épica, o drama e a
lírica como gêneros maiores, no Brasil, terá sido um dos poucos países em que a
crônica se tornou um dos modelos textuais mais profícuos na cena literária. Também
um dos mais praticados e lidos.
Datada ainda do período fundador da nossa literatura – a própria
carta de Pero Vaz de Caminha dando contas do território recém-descoberto à
Coroa Portuguesa é um dos marcos do gênero – a crônica tem tal aceitação por
aqui por duas razões: a primeira, pode está atrelada à polêmica publicada
recentemente na Folha de São Paulo
das razoes pelas quais no Brasil se lê mais ‘não-ficção’, biografias e livros
de autoajuda, por exemplo. Uma das razoes apresentadas na computação dos dados
que apontam determinados livros ocuparem um ranking cuja boa literatura passa
longe é de que os romances e contos escritos pelos escritores brasileiros estão
muito distantes da vivência do público, seja pela linguagem, seja até pelo
tema; isto é, noutras palavras, estaríamos ainda repetindo o mesmo gesto que os
escritores do período de formação da literatura insistiam em fazer: diante de uma
população analfabeta, produzir literatura que só tem seu sentido para um grupo
seleto. A crônica, por sua vez, pela presença constante nas mídias mais baratas
(há que ainda diga que o preço do livro no país anda pela hora da morte), como o
jornal, lugar onde o gênero melhor se adaptou e pela capacidade de se referir a
assuntos do cotidiano, teve logo uma aceitabilidade popular.
A segunda razão de consolidação do gênero está na prática constante
exercida não somente por simples escritores, mas por grandes nomes da nossa
literatura. Muito embora, hoje a prática tenha sido reduzida em detrimento seja
da abertura de novos espaços de leitura que não o jornal e da própria política
de publicação da mídia impressa, sabe-se que a grande maioria desses que
integram o último grupo começaram, inclusive, sua vida literária nos jornais. Por
sua vez, fizeram o uso da crônica como exercício de escrita. Qualquer nome que
pensarmos terá passado por esse lugar: Machado de Assis, Carlos Drummond de
Andrade, Clarice Lispector...
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Mas, entre os nomes que se consagraram na literatura e que o
reconhecimento tenha vindo pela crônica, são raros e até bem pouco tempo
inexistentes para mim. Isso porque, quando li sobre as efemeridades de 2013,
apareceu-me entre os nomes já conhecidos, como Vinicius de Moraes, topei com um
que fecha seu primeiro centenário já no próximo dia 12 de janeiro: Rubem Braga.
Não é que o nome do escritor fosse de um todo desconhecido para mim. Mas, jurei
sempre para mim mesmo que este nome sempre foi de um romancista e não de um
cronista. Ainda mais quando vi o seu nome, por exemplo, estampado numa das edições
dos Cadernos de Literatura Brasileira,
editado ainda em março de 2011 pelo Instituto Moreira Salles, que atualmente dispõe
de parte do espólio de Braga.
E, então, o escritor agora se apresenta como a justificativa
maior para o lugar de merecido destaque que a crônica tem no Brasil: termos
entre grandes nomes da literatura um que fez sua carreira literária pelo gênero.
Mais de duas dezenas de livros de crônica e entre eles apenas um romance, Rubem
Braga até teve gente muita próxima que se dedicou a um ‘gênero nobre’, que foi
seu irmão, o poeta Newton Braga, e ele mesmo terá cunhado alguns versos, mas
pela dimensão da sua bibliografia logo vê-se que foi pela ‘trilha marginal’ que fez sua escrita: contam
mais de 15 mil crônicas, dos quais, apenas 10 mil foram ordenadas em livros. Só
um parêntesis, alguns de seus poemas – já que toquei no assunto – foram publicados
em várias antologias, entre elas, Antologia
de poetas brasileiros bissextos organizada por Manuel Bandeira e num livro
prefaciado por Affonso Romano de Sant’Anna, Livro de versos.
Iniciou-se no jornalismo profissional ainda estudante, aos
15 anos, no Correio do sul, um jornal
de sua cidade natal, Cachoeiro do Itapemirim. Depois, foi para o Diário da tarde, onde Braga escrevia crônicas
e reportagens. Deixou, ainda na juventude a cidade onde nasceu para cursar
Direito em Belo Horizonte; chegou a se formar, mas nunca exerceu a profissão. Também,
logo no ano em que terminou o curso, 1932, eclodia em São Paulo a Revolução
Constitucionalista e ele foi destacado para fazer a cobertura dos eventos; pela
ocasião chegou a ser preso.
Depois de São Paulo foi para o Recife. Por lá, dirigiu a
página de crônicas policiais no Diário de
Pernambuco e fundou o periódico Folha
do povo. Foi também na capital pernambucana que lançou seu primeiro livro
de crônicas, O conde e o passarinho,
em 1936. Do Recife foi para o Rio de Janeiro e aí fundou a revista Diretrizes. Novamente em São Paulo
fundou a revista Problemas e já na
Segunda Guerra Mundial esteve na Itália (entre 1944 e 1945) como correspondente
de guerra para o jornal Diário carioca
acompanhando a Força Expedicionária Brasileira.
Rubem Braga (o primeiro à esquerda, de pé) e a Força Expedicionária Brasileira. |
Depois que esteve na Itália, Rubem Braga fez várias viagens
ao exterior, seja como diplomata, função da qual se vangloriou em carta ao
amigo Otto Lara Rezende do fato de nunca ter feito um discurso que fosse, seja como
correspondente de jornais brasileiros (ver aqui postagem do blog do Instituto Moreira Salles sobre). Com seu retorno ao país foi ocupar a equipe
de jornalismo na TV Globo e ainda escrever suas crônicas para o Correio da manhã, O estado de São Paulo, a revista
Manchete, entre outros periódicos.
Entre os principais títulos seus estão Um pé de milho (1948); O homem rouco (1949); A borboleta amarela (1956); A cidade e a roça (1957); Ai de ti, Copacabana! (1960) e A traição dos elegantes (1967).
Abaixo, preparamos um catálogo com amostra poética do cronista.
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