Rubem Braga


Rubem Braga, Paris (1973). Foto: Alécio de Andrade / IMS



Considerada gênero menor na literatura, porque nesse território, que desde sempre se seguiu o modelo clássico que considera a épica, o drama e a lírica como gêneros maiores, no Brasil, terá sido um dos poucos países em que a crônica se tornou um dos modelos textuais mais profícuos na cena literária. Também um dos mais praticados e lidos.

Datada ainda do período fundador da nossa literatura – a própria carta de Pero Vaz de Caminha dando contas do território recém-descoberto à Coroa Portuguesa é um dos marcos do gênero – a crônica tem tal aceitação por aqui por duas razões: a primeira, pode está atrelada à polêmica publicada recentemente na Folha de São Paulo das razoes pelas quais no Brasil se lê mais ‘não-ficção’, biografias e livros de autoajuda, por exemplo. Uma das razoes apresentadas na computação dos dados que apontam determinados livros ocuparem um ranking cuja boa literatura passa longe é de que os romances e contos escritos pelos escritores brasileiros estão muito distantes da vivência do público, seja pela linguagem, seja até pelo tema; isto é, noutras palavras, estaríamos ainda repetindo o mesmo gesto que os escritores do período de formação da literatura insistiam em fazer: diante de uma população analfabeta, produzir literatura que só tem seu sentido para um grupo seleto. A crônica, por sua vez, pela presença constante nas mídias mais baratas (há que ainda diga que o preço do livro no país anda pela hora da morte), como o jornal, lugar onde o gênero melhor se adaptou e pela capacidade de se referir a assuntos do cotidiano, teve logo uma aceitabilidade popular.

A segunda razão de consolidação do gênero está na prática constante exercida não somente por simples escritores, mas por grandes nomes da nossa literatura. Muito embora, hoje a prática tenha sido reduzida em detrimento seja da abertura de novos espaços de leitura que não o jornal e da própria política de publicação da mídia impressa, sabe-se que a grande maioria desses que integram o último grupo começaram, inclusive, sua vida literária nos jornais. Por sua vez, fizeram o uso da crônica como exercício de escrita. Qualquer nome que pensarmos terá passado por esse lugar: Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector...

***

Mas, entre os nomes que se consagraram na literatura e que o reconhecimento tenha vindo pela crônica, são raros e até bem pouco tempo inexistentes para mim. Isso porque, quando li sobre as efemeridades de 2013, apareceu-me entre os nomes já conhecidos, como Vinicius de Moraes, topei com um que fecha seu primeiro centenário já no próximo dia 12 de janeiro: Rubem Braga. Não é que o nome do escritor fosse de um todo desconhecido para mim. Mas, jurei sempre para mim mesmo que este nome sempre foi de um romancista e não de um cronista. Ainda mais quando vi o seu nome, por exemplo, estampado numa das edições dos Cadernos de Literatura Brasileira, editado ainda em março de 2011 pelo Instituto Moreira Salles, que atualmente dispõe de parte do espólio de Braga.

E, então, o escritor agora se apresenta como a justificativa maior para o lugar de merecido destaque que a crônica tem no Brasil: termos entre grandes nomes da literatura um que fez sua carreira literária pelo gênero. Mais de duas dezenas de livros de crônica e entre eles apenas um romance, Rubem Braga até teve gente muita próxima que se dedicou a um ‘gênero nobre’, que foi seu irmão, o poeta Newton Braga, e ele mesmo terá cunhado alguns versos, mas pela dimensão da sua bibliografia logo vê-se que foi pela  ‘trilha marginal’ que fez sua escrita: contam mais de 15 mil crônicas, dos quais, apenas 10 mil foram ordenadas em livros. Só um parêntesis, alguns de seus poemas – já que toquei no assunto – foram publicados em várias antologias, entre elas, Antologia de poetas brasileiros bissextos organizada por Manuel Bandeira e num livro prefaciado por Affonso Romano de Sant’Anna, Livro de versos.



Iniciou-se no jornalismo profissional ainda estudante, aos 15 anos, no Correio do sul, um jornal de sua cidade natal, Cachoeiro do Itapemirim. Depois, foi para o Diário da tarde, onde Braga escrevia crônicas e reportagens. Deixou, ainda na juventude a cidade onde nasceu para cursar Direito em Belo Horizonte; chegou a se formar, mas nunca exerceu a profissão. Também, logo no ano em que terminou o curso, 1932, eclodia em São Paulo a Revolução Constitucionalista e ele foi destacado para fazer a cobertura dos eventos; pela ocasião chegou a ser preso.

Depois de São Paulo foi para o Recife. Por lá, dirigiu a página de crônicas policiais no Diário de Pernambuco e fundou o periódico Folha do povo. Foi também na capital pernambucana que lançou seu primeiro livro de crônicas, O conde e o passarinho, em 1936. Do Recife foi para o Rio de Janeiro e aí fundou a revista Diretrizes. Novamente em São Paulo fundou a revista Problemas e já na Segunda Guerra Mundial esteve na Itália (entre 1944 e 1945) como correspondente de guerra para o jornal Diário carioca acompanhando a Força Expedicionária Brasileira.

Rubem Braga (o primeiro à esquerda, de pé) e a Força Expedicionária Brasileira. 


Depois que esteve na Itália, Rubem Braga fez várias viagens ao exterior, seja como diplomata, função da qual se vangloriou em carta ao amigo Otto Lara Rezende do fato de nunca ter feito um discurso que fosse, seja como correspondente de jornais brasileiros (ver aqui postagem do blog do Instituto Moreira Salles sobre). Com seu retorno ao país foi ocupar a equipe de jornalismo na TV Globo e ainda escrever suas crônicas para o Correio da manhã, O estado de São Paulo, a revista Manchete, entre outros periódicos.

Entre os principais títulos seus estão Um pé de milho (1948); O homem rouco (1949); A borboleta amarela (1956); A cidade e a roça (1957); Ai de ti, Copacabana! (1960) e A traição dos elegantes (1967).

Abaixo, preparamos um catálogo com amostra poética do cronista.






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