O desastre das readaptações dos contos de fadas para as telas

Salvam-se a beleza dos atores, o bum-bum dos efeitos especiais; perde-se o telespectador com uma historieta sem pé nem cabeça, mas o que fazer se o que Hollywood quer é impressionar? Imagem: cena de João e Maria  - caçadores de Bruxas


Não é de hoje que Hollywood tem descoberto o poder cinematográfico dos contos de fadas. Tanto que não será exagero dizer que este se constitui numa das linhas de montagem de filmes. Tem seus altos e baixos, vão e voltam. E, agora voltaram mais renovados e deturpados que nunca; se antes alguém já brigava pela infidelidade da adaptação, ir ao cinema para ver as novas produções é, praticamente, para ter taquicardia.

Tão logo quando foram para as telas o grau de suplantação dos contos originais se guiava pelo estilo a Walt Disney, com príncipes moiçolas de olhos azuis e mocinhas indefesas e submissas. Agora, a onda se guia pela sombra gratuita dos filmes baratos de vampiragem a Amanhecer & Cia. Evidente que o cinema mudou e seus propósitos principalmente. O cinema arte é cada vez mais produto vendido nos pequenos grupos e quando não os há na clandestinagem para ver um do tipo é preciso muita dica de amigo cinéfilo e visitas na pirataria da esquina ou nos espaços de download on-line. Se já não havia como substituir o conforto de casa pelo cinema lotado de crec-cre de pipocas, de shit-shit de embalagens, de burburinhos comentando o andamento do filme, agora então... Mas, voltemos aos propósitos. Ninguém mais quer pensar; logo o filme que faz sucesso é o ao estilo novela as nove melhorada. É então que entram os produtores: filam um filão (sem redundâncias) e modelam comercialmente ao sem bem-querer com o intuito somente de que no fim de tudo as salas lotem e os milhões investidos sejam triplicamente revertidos.

Pensar que a nova onda dos contos de fadas com seus ares sombrios e muito sangue teve seu princípio nada inocente com Alice no país das maravilhas de TimBurton, muito embora a coisa tenha mesmo ‘pegado’ com Branca de Neve e o caçador – dois filmes que até elogiei, um, pela riqueza visual, outro, pelo retorno a origem do conto fundador. De modo que, o desastre mesmo parece ter começado com Agarota da capa vermelha e agora se perpetuará em João e Maria: caçadores de bruxas, em que a história infantil é envelhecida com a desculpa esfarrapada de um retorno fortalecido pelo passado numa adolescência que quer a todo custo o gosto por sangue.

Sem sombras e sangue, Oz - mágico e poderoso vai pela linha Alice, de Tim Burton. Melhor só impressionar os sentidos visuais que zoar da boa vontade e disposição do telespectador em ver uma adaptação.

E o futuro reservam um Peter Pan serial killer (isso cotado para 2014 e ainda sem data de chegar às telas), um Oz mágico e poderoso e Jack, caçador de gigantes (esses dois com datas de estreia para março). Muito embora a subversão ao Oz esteja mais como em Alice de Burton na renovação visual em Jack, inspirado em João e o pé de feijão, a produção tenha pegado para valer na imaginação barata. Ainda com base no original de L Frank Baum tem estreia nos Estados Unidos (também sem data por aqui) da animação Dorothy of Oz que dá um destino, também barato, a Dorothy.

D’A Bela Adormecida vem Malévola; d’As mil e uma noites vem Arabian Nights e até a história de 1837 de Hans Christian Andersen, A pequena sereia finda a lista dos desastres, mesmo não sabendo ainda, por exemplo, se Joe Wright irá fazer d’A pequena sereia uma adaptação roteirizada pelo livro de Andersen ou irá pela onda negra que solapa as telas.

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