Casimiro de Abreu, romancista
Casimiro de Abreu nasceu em Barra de São João, Rio de
Janeiro, a 4 de janeiro de 1839, e lá morreu, de tuberculose, no dia 18 de
outubro de 1860 – quando contava, portanto, apenas 21 anos de idade. Embora
tenha trabalhado no escritório do pai, comerciante, muito cedo se decidiu pela
literatura. Ficou conhecido como um dos nomes da poesia romântica no Brasil,
mas também terá se aventurado pela escrita em prosa, com algumas malogradas
tentativas, das quais, destaca-se o romance (ou seria novela?) Carolina, publicado entre 12 e 13 de
março de 1865, em dois folhetins para o jornal português Progresso.
Num texto para o jornal O
estado de São Paulo em outubro de 2010, o crítico Antônio Soares Amora
entende que este texto tem sim bastante interesse literário: a narrativa se desenvolve
dando contas da “historia de uma desgraçada moça que, tendo despertado para o
namoro e para as consequentes solicitações do amor, vê-se inesperadamente
abandonada por Augusto, que, apesar de todos os juramentos de paixão e de
eterna fidelidade a essa paixão, põe acima de tudo, isto é, de todas as exigências
dos corações de ambos, razões práticas da vida, que o obrigam a longa ausência
no estrangeiro. Aberto o coração de Carolina às aliciantes e perturbantes
emoções e sensações passionais, fácil foi entrar, nesse coração pouco depois,
um novo amor; mas então, não mais de um namorado, fervoroso, contudo puro
amante, e sim de um reles conquistador, Fernando, que desgraça a inexperiente
Carolina.”
O rapaz a seduz e depois lhe abandona na casa dos pais, mantendo-lhe
como sua amante pelo tempo necessário à dissimulação do crime de adultério.
Nesse período de ausência de Augusto, Carolina chega a ter um filho do amante.
O desfecho, como é típico das novelas passionais, se dá, com abandono de
Carolina que para sobreviver no estrangeiro – os dois haviam fugido para Lisboa
– cai na prostituição. O regresso de Augusto para o cumprimento do casório, o
leva a padecer todas as dores do traído. Mais tarde, o próprio Fernando leva
Augusto a um prostíbulo a fim de que o amigo esqueça da traição e se convença,
de uma vez por todas, que o amor é apenas dado pelo cinismo da conquista; lá, já
imaginamos dar com Carolina.
“O desenlace desse encontro dos três protagonistas,
engendrado por diabólico acaso, resulta em consequências trágicas: Fernando,
sob a ameaça da agressão violenta de Augusto, revoltado até quase a insanidade
ante tanta baixeza do torpe sedutor, cai fulminado por uma apoplexia; e Augusto
e Carolina desaparecem do cenário de sua tragédia. Poucos dias depois, em Setúbal,
Carolina, amparada pelo consolo da religião, morre definhada pelo sofrimento:
Augusto, que a procurara em vão, para a perdoar e compensá-la pelo amor, de
tudo que padecera, tem apenas o consolo de duas cartas da infelicitada amada:
uma, em que lhe conta toda sua dolorosa historia e lhe pede o perdão, que só um
grande coração poderia dar; outra, escrita nos últimos momentos de vida, com
algumas linhas de derradeiro e sereno adeus”.
Por esse breve percurso é fácil perceber que o texto de
Casimiro se nutre dos elementos comuns aos romances passionais do Romantismo,
presentes, por exemplo, em Almeida Garret e depois levado ao extremo do uso com
Camilo Castelo Branco, Visconde de Taunay e o próprio primeiro reconhecido romancista
da literatura brasileira, José de Alencar. Antônio Soares Amora assim concorda
e entende que aí estão as “veemências da paixão, a situação do amante que
regressa para cumprir juramento de amor e é fulminado pelo ultraje de um sedutor,
o tema da ‘coroa da virgindade’ arrancada da fronte de inocente donzela, a
punição infalível do algoz, pela mão do amante vilipendiado e pela justiça
divina, e finalmente, ao tema dos lenitivos da religião, que ensina o caminho do
perdão, do esquecimento das lágrimas terrenas, e da esperança de salvação.”
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