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Mostrando postagens de janeiro, 2013

O desastre das readaptações dos contos de fadas para as telas

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Salvam-se a beleza dos atores, o bum-bum dos efeitos especiais; perde-se o telespectador com uma historieta sem pé nem cabeça, mas o que fazer se o que Hollywood quer é impressionar? Imagem: cena de João e Maria  - caçadores de Bruxas Não é de hoje que Hollywood tem descoberto o poder cinematográfico dos contos de fadas. Tanto que não será exagero dizer que este se constitui numa das linhas de montagem de filmes. Tem seus altos e baixos, vão e voltam. E, agora voltaram mais renovados e deturpados que nunca; se antes alguém já brigava pela infidelidade da adaptação, ir ao cinema para ver as novas produções é, praticamente, para ter taquicardia. Tão logo quando foram para as telas o grau de suplantação dos contos originais se guiava pelo estilo a Walt Disney, com príncipes moiçolas de olhos azuis e mocinhas indefesas e submissas. Agora, a onda se guia pela sombra gratuita dos filmes baratos de vampiragem a Amanhecer & Cia. Evidente que o cinema mudou e seus propósitos pr

Django livre, de Quentin Tarantino

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Por Pedro Fernandes Quem já se deparou com Quentin Tarantino em empreitadas como Kill Bill e com Bastardos inglórios – para ficar em duas produções recentes do diretor – verá que, dos três filmes para cá ( Kill Bill foram dois filmes) ele muito tem aperfeiçoado seu estilo e permanece seduzido por alguns exageros. A prova ainda pode ser tirada com a chegada aos cinemas, agora em 2013, de Django livre , que, no meu curto entendimento vai entrando para lista das boas surpresas do ano. Quando comentei por aqui sobre A viagem não lembro ter dito que este filme era um filme para ser revisto; se não tiver dito, aproveito a ocasião para, ao concordar que Django deve ser um filme para ser revisto, dizer; e já vão duas reprises necessárias. Em Django livre , Quentin Tarantino se apropria do fato e um dos mais vergonhosos da história, a escravidão, e num misto de faroeste sem deserto, produz uma narrativa, já no seu tradicional modo de narrar que ocupa três movimentos: a prisão

Callado e a “vocação empenhada” do romance brasileiro

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Por Ligia Chiappini Embora se alimente de episódios quase coetâneos, muitos deles tratados em reportagens pelo autor, a ficção de Antonio Callado transcende o fato para sondar a verdade, por uma interpretação ousada, irreverente e atual. E consegue tratar de forma nova um velho problema da literatura brasileira: sua "vocação empenhada", para usar a expressão consagrada de Antonio Candido. Uma ficção que pretende servir ao conhecimento à descoberta do país. Mas o resgate dessa tradição do romance empenhado ou engajado se realiza aqui com um refinamento que não compromete a comunicação e com um caráter documental que não perde de vista a complexidade da vida e da literatura. Busca difícil, que termina dando uma obra desigual, mas, por isso mesmo, interessante e rica.  O jornalismo e suas viagens proporcionam ao escritor experiências das mais cosmopolitas às mais regionais e provincianas. A experiência decisiva do jovem intelectual, adaptado à vida londrina, a quase

O clássico de combate*

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por Sandra Vasconcelos Jane Austen em retrato do século XIX. Dizem que ela escrevia em pedacinhos de papel, um artifício ou mania desenvolvida pela timidez da escritora que nunca se sentiu à vontade diante dos seus escritos.  O recolhimento à esfera doméstica, o horizonte acanhado, a discrição da autora – nada faria supor que os romances de Jane Austen (1775-1817) viriam a ocupar um lugar de destaque nas letras inglesas e chegariam a ser considerados verdadeiros clássicos. No entanto, essas narrativas de amor e casamento tornaram-se, ao longo do tempo, unanimidade de público e de crítica e deram a Austen a fama que ela não conheceu em vida. Se as oportunidades de desenvolvimento profissional e intelectual eram reduzidas para as mulheres, principalmente para aquelas de sua condição social, Austen soube traduzir essas limitações e transpor, para o plano literário, uma experiência que era a de tantas jovens naquele momento de transição entre os séculos 18 e 19. Dessa man

O boom da literatura chilena, José Donoso no Brasil

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Por Pedro Fernandes José Donoso, um dos escritores chilenos que começam a chegarao Brasil em novas traduções. Os leitores brasileiros devem abrir um espaço na estante para receber a obra de um escritor chileno que volta a aportar por aqui neste ano: José Donoso. Dois de seus trabalhos já estão nas livrarias:  O lugar sem limites  (Cosac Naify) seguido de O obsceno pássaro da noite  (Benvirá). A reentrada da literatura de Donoso ao Brasil vem num momento em que a presença dos latino-americanos tem assumido ponto alto por aqui. Especificamente dos autores vindos do Chile. Deste país, por exemplo, contamos com Roberto Bolaño (tido como um fenômeno Cult ), Isabel Allende, Antonio Skármeta... E antes desses nomes, a obra de Pablo Neruda, talvez um dos mais traduzidos por aqui e atravessado pelo momento de expansão da literatura de língua espanhola no mundo.  Ah, e não se deve esquecer Alejandro Zambra! Em 2012, o escritor esteve como convidado na Festa Literária Internacional de P

O centenário de “Swann” e outras novidades em torno de Marcel Proust

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Marcel Proust, Évian, 1905. É uma obra monumental e, assim como os grandes romances A comédia humana , de Balzac, Guerra e paz e outros, de Tolstói, Os irmãos Karamazov , de Dostoiévski, Ulisses , de Joyce etc. etc., deve estar entre os livros que todo também grande leitor em algum momento de sua vida precisará enfrentar. Em busca do tempo perdido ou como se popularizou em português o título original em francês À la recherche du temps perdu é a obra-prima de Marcel Proust que, agora em 2013, chega ao primeiro centenário. Embora, muito antes de 1913, já algumas partes aparecessem publicadas em jornais como o Le Figaro e o próprio Proust tenha dado início à sua escrita em 1909... Ao todo são sete romances escritos até 1922 e publicados até 1927; os três últimos publicados postumamente: No caminho de Swann ( Du côté de chez Swann ), À sombra das raparigas em flor ( À l’ombre des jeus filles en fleurs ), O caminho de Guermantes ( Le côté de Guermantes ), Sodoma e Gomorra (S

3 vezes Dostoiévski

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Já foi dito e, não por uma pessoa, mas muitos concordam, que todo leitor que se preze há de um dia, se já não passou, passar pela literatura russa: Dostoiévski, Tolstói, Puchkin, Gógol, Tchekhov, Górki... E uma vez lido esses autores terão pelo menos uma porcentagem para o entendimento crítico sobre outras literaturas. Aos leitores brasileiros que já leram livros como Crime e castigo , Os irmãos Karamazov ou até mesmo Noites brancas , texto mais leve que os dois primeiros, desconhece o Dostoiévski apresentado ainda em 2012 pela Editora 34, uma das quase únicas, as outras são a Cosac Naify e a L&PM Editores, que publica literatura russa no país; são três textos, um romance de 1859 A aldeia de Stepántchikovo e seus habitantes e, também do mesmo ano, as novelas O sonho do titio e Sonhos de Petersburgo... , este de 1861. Aos que se soma Bóbok , de 1872, livro já esgotado e que agora volta numa reedição. Os quatro textos juntos compõem uma introdução ao escritor russo.

Uma lista de autobiografias indispensáveis (Parte 3)

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A chegada às livrarias de um livro de natureza muito diversa de Umberto Eco, em que o autor de O nome da rosa volta no tempo para perscrutar o jovem romancista, fez voltarmos a duas listas de livros publicadas em 2008 cujo o gênero aparece definido como autobiográfico. O retorno às duas listas serve para um motivo a mais: ampliar essa biblioteca com outros títulos. Então, depois de Maksim Górki, Gabriel García Márquez, Doris Lessing, J. M. Coetzee, Philip Roth, Simone de Beauvoir, Erico Verissimo, Amós Oz, Vladimir Nabokov, José Saramago (ufa!) tomem nota destes. E relembramos sempre o mesmo recado: esta não é uma lista definitiva, nem um ranking . As informações sobre cada livro foram copiadas dos resumos oferecidos pelas editoras que publicaram a obra no Brasil. Comecemos então pelo título do escritor italiano. 1. Confissões de um jovem romancista , de Umberto Eco: antes de se dedicar à ficção Umberto Eco escreveu teoria; foi só quando tinha quase cinquenta anos. E no

O cerco à literatura

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Sou a favor da obscenidade e contra a pornografia. O obsceno é franco, direto; a pornografia é o indireto, perifrástico. Acho que se deve dizer a verdade apresentando-a friamente, de modo chocante se necessário, sem disfarçá-la. Em outras palavras, a obscenidade é um processo purificador, enquanto a pornografia aumenta a sujeira.   Arthur Miller Um fato ocorrido semana passada no Rio de Janeiro juntou-se com algumas inquietações minhas a respeito da estranha relação que sempre foi dada por outras instâncias para com a literatura. Segundo matéria veiculada no caderno de Cultura do jornal Estadão, de 17 de janeiro, a livraria Nobel de Macaé, recebeu na segunda-feira a visita de dois policiais e de dois comissários da Segunda Vara de Família, da Infância, da Juventude e do Idoso do município com a ordem de recolher todos os livros com conteúdo impróprio para menores de 18 anos que não estivessem em embalagens lacradas. A ordem partiu do juiz Raphael Baddini de Queiroz C

A viagem, de Andy Wachowski, Lana Wachowski, Tom Tykwer

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Por Pedro Fernandes Já foi dito por muitos romancistas que seus livros não teriam vez se fugisse das páginas para as telas. José Saramago foi um dos que ainda em vida relutou, depois do fiasco alemão para A jangada de pedra , em deixar que alguém metesse a mão em algum outro livro seu e o adaptasse para o cinema. Até que o diretor brasileiro Fernando Meirelles o convenceu do contrário e, em definitivo, conseguiu arrancar lágrimas do Prêmio Nobel de Literatura, quando viu, pela primeira vez, o produto de Ensaio sobre a cegueira transmutado em Blindness . Depois disso, já se adapta, ainda para fins deste 2013, O homem duplicado e o diretor português Miguel Gonçalves Mendes já sinalizou querer filmar O evangelho segundo Jesus Cristo . No caso de Saramago, era sim receio. Apesar de não ser nenhum diretor de cinema, mas acho seus livros plenamente imagéticos; até essa forma de organização de diálogo no romance e a relação entre as vozes de narrador e personagem já têm um pique cin