3 vezes Dostoiévski





Já foi dito e, não por uma pessoa, mas muitos concordam, que todo leitor que se preze há de um dia, se já não passou, passar pela literatura russa: Dostoiévski, Tolstói, Puchkin, Gógol, Tchekhov, Górki... E uma vez lido esses autores terão pelo menos uma porcentagem para o entendimento crítico sobre outras literaturas.

Aos leitores brasileiros que já leram livros como Crime e castigo, Os irmãos Karamazov ou até mesmo Noites brancas, texto mais leve que os dois primeiros, desconhece o Dostoiévski apresentado ainda em 2012 pela Editora 34, uma das quase únicas, as outras são a Cosac Naify e a L&PM Editores, que publica literatura russa no país; são três textos, um romance de 1859 A aldeia de Stepántchikovo e seus habitantes e, também do mesmo ano, as novelas O sonho do titio e Sonhos de Petersburgo..., este de 1861. Aos que se soma Bóbok, de 1872, livro já esgotado e que agora volta numa reedição. Os quatro textos juntos compõem uma introdução ao escritor russo.

O primeiro deles marcou a volta de Dostoiévski ao mundo da literatura após quase dez anos de exílio na Sibéria. Sabe-se que o escritor foi preso e condenado à pena de morte na Rússia czarista de Nicolau I e teve a pena comutada em quatro anos de trabalhos forçados e mais quatro de serviço militar, como soldado raso. Inspirado tanto nos textos como na figura de Gógol, A aldeia de Stepántchikovo foi pensado primeiro para ser uma peça de teatro e revela a face cômica do autor. Thomas Mann definiu a personagem do romance Fomá Fomitch Opínskin como ‘uma criatura cômica de primeira grandeza, irresistível, equiparável às de Shakespeare e Molière’.

 Acostumado que estamos com as traduções de Paulo Bezerra e Boris Schnaiderman, dois dos mais importantes tradutores do russo para o português no Brasil, o trabalho desta fez é de Lucas Simone, que também já quase deixa de ser um veterano na prática, uma vez que são seus traduções para Pequeno-burgueses, A velha Izerguil e outros contos, Vendetta de Górki, ou A sílfide, de Odóievski, ou ainda, O inquérito, de Kuprin, Ariadne, de Tchekhov, entre outros. Outra novidade é o romance vem ilustrado com trabalhos de Darel Valença Lins.

Já o segundo livro, que reúne dois textos ficcionais de Dostoiévski, novamente estamos diante do escritor comediante dos costumes no intuito de promover um desmascaramento da sociedade russa, particularmente de sua aristocracia às vésperas de importantes transformações históricas. Isso é válido para O sonho do titio; já em Sonhos de Petersburgo, Dostoiévski apaga deliberadamente as fronteiras entre a prosa e a poesia para construir uma visão ao mesmo tempo crítica, cômica e fantástica da cidade construída por Pedro, o Grande - tudo isso vazado num registro que oscila entre o devaneio, a epifania e a mais lúcida observação. Em comum, os dois sonhos de Dostoiévski – traduzidos por Paulo Bezerra diretamente do original russo – trazem o impulso do humor anárquico de Nikolai Gógol (1809-1852), que subverte as expectativas e, com as armas do absurdo e do nonsense, renova de modo surpreendente o nosso olhar sobre o mundo.

Agora, Bobók, sob tradução de Paulo Bezerra, que também redigi-lhe um estudo introdutório sobre as relações de Bobók com outras obras da literatura do escritor, como o romance que antecede o conto, Os demônios. Escrito em 1872, o conto é entendido com um microcosmo de toda a obra de Dostoiévski; aí estão ideias sobre a inexistência de Deus e a imortalidade da alma, a confissão sem arrependimento e a verdade necessária; a consciência, a pena de morte, a loucura, o suicídio, enfim, logo se vê que, de todos, deve ser este o mais introdutório à literatura do escritor russo.

Por fim, resta esclarecer uma única coisa: os leitores que tenham ficaram interessados nos títulos aqui apresentados - assim numa única caixa - um aviso: não são encontrados aleatoriamente nas livrarias. Em contato com a 34, ficamos a par de que o produto é exclusividade de uma parceria firmada entre editora e a Livraria Cultura - único lugar, portanto, onde os três livros são comercializados juntos.

Comentários

Déborah disse…
Olá, vi o link para esse post na página do facebook Literatura Russa. Comprei esse box há pouco, ainda não li nenhum, mas gostei muito do que você escreveu, dá uma noção geral do que me espera além de dar mais vontade ainda de ler os livros do box.

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #610

Boletim Letras 360º #601

Seis poemas de Rabindranath Tagore

16 + 2 romances de formação que devemos ler

Mortes de intelectual