Carlos Drummond de Andrade e arte de escrever cartas
“Nas cartas que escrevo costuma insinuar-se o rascunho da grande carta (grande? ou conterá só duas linhas?), mas bem sei que não adianta rascunhar o que não pode ser previsto e menos ainda planejado. Ou a carta se faz espontaneamente na brancura da folha, tão imperativa que só me resta assiná-la, ou todo o meu empenho literário de reunir as expressões mais adequadas resultará na caricatura de um documento que independe de estilização e mesmo a repele. A correspondência da vida inteira torna-se o esboço inútil de uma única peça postal que não tenho aptidão para compor, e não me é ditada, mas que exige ser escrita. Estamos nisto, eu e a minha carta, já concreta, palpável, legível de tão imaginada: em sua plenitude branca.” Carlos Drummond de Andrade, “Projeto de carta”, Os dias lindos Bilhete que Carlos Drummond de Andrade escreveu a Clarice Lispector após ler De corpo inteiro . Foto: Acervo da família. Arquivo Museu de Literatura da Fundação Casa de Rui Barbosa.