Uma nova face de Alexandre Dumas
Dumas, já todos sabemos, está entre clássicos como Dante,
Cervantes, Shakespeare, Balzac. Destaca-se entre os citados como um dos pilares
do gênero romance de aventuras. Produziu vários artigos para revistas e peças
de teatro. O que terá lhe dado a celebridade, pelo que já enunciamos, não foi
portanto, essas publicações, mas grandes trabalhos com Os três mosqueteiros, já adaptado ao cinema inúmeras vezes, O conde de Monte Cristo, também já encenado
nas grandes telas, O quebra-nozes,
que mais tarde foi adaptado para o balé por Tchaikovsky, entre outros.
Mestre do folhetim – teve sorte de seu trabalho profissional
se situar justamente no tempo áureo do gênero – Dumas, assim como Balzac, foi
sempre um dos mais requisitados autores. Foi um escritor de vida intensa, mas não
é sobre a sua vida que iremos tratar neste texto. O motivo é para falar de uma
face, diríamos, até desconhecida de leitores assíduos da obra do francês. É
certo que um escritor de folhetins, assim tão requisitado, deve possuir a capacidade
do mais variado conjunto de manobras temáticas para garantir sempre matéria aos
textos requisitados.
Já conhecemos o lado do cronista gastronômico quando a
Editora Zahar – uma das que têm editado o escritor no Brasil recentemente –
publicou o Grande Dicionário de Culinária
do próprio Dumas, que passado longo tempo depois de sua publicação tem sido
adotado entre os chefes de cozinha como uma referência à gastronomia francesa,
principalmente, muito embora figurem aí a descrição de pratos exóticos dos mais
diversos países.
Bom, para um escritor que foi até os limites da cozinha, o
que ainda esperar dele? Os textos agora publicados no Brasil atestam outro
limite do autor de Os três mosqueteiros;
agora, ficamos diante de um escritor que, não é o Edgar Allan Poe, mas produziu
igualmente trabalhos cujo tema se beneficia do terror e do sobrenatural. Falamos
do título A mulher da gargantilha de
veludo que traz além da novela homônima a obra editada, a também novela 1001 fantasmas.
A primeira novela tem por protagonista E. T. A. Hoffmann, o
mestre alemão da literatura fantástica. Consultando o press release oferecido pela editora, ficamos sabendo do
desenvolvimento da trama que se passa na Paris de 1793, época em que o terror
da guilhotina dominava a capital francesa. E. T. A. Hoffmann então conhece um
médico misterioso e se apaixona com uma bailarina que traz sempre no pescoço uma
sinistra gargantilha de veludo; descobre então que a moça é amante do revolucionário
Danton. E está, então formada a intriga: as personagens irão se envolver num
impressionante e trágico delírio amoroso.
Em 1001 fantasmas
um homem se entrega à polícia dizendo que a cabeça de sua esposa – a quem ele
acabara de decapitar – falara com ele após rolar no chão. O caso é suficiente
para causar entre as testemunhas do processo um debate sobre o caso inusitado
que não passará de acutilamento do próprio escritor em relação aos eventos de matança
indiscriminada na guilhotina.
Os dois textos vêm precedidos de uma esclarecedora introdução
redigida por Heloísa de Prieto que além de ser conhecida escritora com mais de
quarenta títulos já publicados é doutora em Literatura Francesa pela
Universidade de São Paulo e tem sua pesquisa dedicada à literatura gótica em
escritores como Edgar Allan Poe, Maupassant e Balzac. Com tradução e notas de André
Telles e Rodrigo Lacerda, o livro vem ainda acompanhado de 50 ilustrações compostas
por Jean-Adolphe Beaucé e Clement Auguste Andrieux que acompanharam as edições originais.
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