Os 10+ de 2012
Por Pedro Fernandes
Agora vem, em definitivo o final de ano. Um ano bastante
intenso para eu que coordeno além deste blog e suas ramificações (Twitter, Facebook,
Google+ e Tumblr), um periódico (o caderno-revista 7faces), o projeto Um
caderno para Saramago e ainda tenho de prestar contas no andamento de um
doutorado em Literatura Comparada com todas as implicâncias que a carreira acadêmica
suscita, as publicações em revistas, os congressos etc. e etc. Além de tudo,
foi este um ano decisivo para a publicação de meu livro, que vinha sob os
auspícios de releituras, de cortes, de acréscimos, num estica-encolhe de pelo
menos um ano depois da data em que o finalizei, março de 2011. Depois disso, o
corre-corre pelos lançamentos, pela divulgação, para as entrevistas etc. e etc.
Como se dá conta de tudo isto? Simples: posição de militar (nem sempre, é
verdade, mas na maioria das vezes).
Mas, foi este um ano perfeito. Afora as leituras acadêmicas
e todas essas responsabilidades listadas, devo ter lido em torno de 15 livros
de literatura e visto pelo menos uns 40 filmes, muitos deles comentados aqui,
outros não vi necessidade de comentários e outros ainda serão comentados ao
longo de janeiro. É verdade que nunca fiz um balanço desse tipo (pessoal) publicamente; tenho feito balanços do andamento do blog, mas isso a cada aniversário
seu, em novembro de cada ano. Mas, balanços pessoais, publicamente, repito, nunca eu os
fiz. E por que então de fazê-lo agora? Talvez porque este não seja definitivamente um balanço
pessoal. Quando muito, apenas um rol de comentários introdutórios para eventos que foram, durante todo o
ano, já direta ou indiretamente compartilhados com os leitores. E por isso, irei voltar atrás para me
corrigir: isto que agora se apresenta pode ser lido como duas breves listas pessoais que, não tão bem acabada assim, por vezes, tem pingado por aqui,
ao término de cada ano. Abaixo, deixo, então, no meu gosto, aquilo que mais
mexeu comigo de algum modo. Alguns livros, como notarão, foram releituras para textos que produzi
este ano.
OS LIVROS
1. Fado alexandrino,
de António Lobo Antunes: como pesquisador que se inicia na obra do escritor português este foi o quinto livro seu que li em 2012; livro que me obrigou pelo menos três recomeços para
lê-lo, é, talvez pelo desfecho recente, um dos melhores que pude ler neste ano;
dispus notas sobre por aqui.
2. Desmundo, de
Ana Miranda: da romancista já havia lido (e não contei por aqui, mas fica a
dívida) O boca do inferno; Desmundo, apenas visto o filme. O livro
me confirma a escritora como um dos melhores nomes depois de Clarice Lispector
e Rachel de Queirós. Também deixei algumas notas sobre por aqui.
3. A máquina de fazer
espanhóis, de Valter Hugo Mãe: apesar de já ter adquirido todos os livros do
escritor português que já foram editados no Brasil – o nosso reino, o remorso de baltazar
serapião e o filho de mil homens –
fiz um movimento fora da horizontalidade das publicações. Tenho a impressão pela
beleza e riqueza da narrativa que estamos, sim, diante de um escritor que tem domínio
do plano literário e pode vir a ser um importante nome para as literaturas de
língua portuguesa no futuro.
4. Odisseia, de
Homero: texto clássico e necessário de sua presença na biblioteca de todo
estudante de Letras/Literatura. A versão que li foi a editada pela Editora 34
sob os cuidados de Trajano Vieira. Apesar de não saber nada de grego, tenho
para mim, pelo trabalho linguístico empreendido pelo tradutor, que estou diante
de um novo texto e não do texto de Homero. Entretanto, é justamente pela
riqueza vocabular e estética, sobretudo, que faz a obra está neste ponto da
lista. A partir da leitura fui fazendo uma série de postagens para o blog - ao todo foram sete textos, o primeiro deles pode ser lido aqui.
5. O delfim, de
José Cardoso Pires: um dos principais romances do autor de Balada da praia dos cães, já na lista para 2013, este é um texto
cujo trabalho estético se não sobrepõe o tema faz ele ter a aparência caleidoscópica
que merece ter. Notas aqui.
6. Eu, de Augusto
dos Anjos: até dispus o livro entre as indicações para presente porque como
justifiquei, além de ser um importante trabalho na produção poética brasileira,
o livro de Augusto dos Anjos teve pelo menos três reedições por diferentes
editoras assinalando, primeiro, a passagem de seu primeiro centenário, segundo,
consolidando o nome do poeta como um dos mais importantes para a literatura
nacional. Este foi um livro que li ainda nos meus tempos de graduação em Letras
e tive oportunidade de, agora, relê-lo, com os acréscimos feitos pela edição organizada
pela Editora Martins Fontes. É um livro também que merece sempre uma visitação.
Vale uma lida de um texto meu veiculado no jornal sobre este livro, aqui.
7. As raízes que
invadiram a casa, de Vernaide Wanderley: é o primeiro trabalho em prosa que
pude ler da escritora, mas, assim como a poesia de Litorgia – ou poemas com rimas vermelhas, convenceu-me a riqueza do
enredo e sua montagem fazendo deste uma das grandes surpresas do ano.
8. Fazes-me falta,
de Inês Pedrosa: sei que escritora portuguesa publicou um novo romance neste
ano, Dentro de ti ver o mar, ainda
sem data de chegada ao Brasil, mas este é um texto que, sem falta, não pode
deixar de está na lista dos que necessitam conhecer o que se passa na
literatura portuguesa contemporânea. Notas sobre aqui.
9. A costa dos
murmúrios, de Lídia Jorge: o mesmo que disse para o Fazes-me falta digo para este livro de Lídia Jorge, autora que em
recente passagem por terras brasileiras deixou-nos seu também novo romance, A noite das mulheres cantoras. Comentei
sobre aqui.
10. Habitar teu nome,
de Marize Castro: depois de tantos outros títulos da mais pura poesia, estou
diante de uma poeta, que apesar de se manter num tema (creio que já seja hora
de se reinventar), consegue atingir um limite caro da arte do verso – a concisão
e a precisão da palavra.
OS FILMES
1. Cosmópolis, de
David Cronenberg: sai como o melhor filme do ano. De novo repito que pode ser
um julgamento apressado pela visão recente, mas, aí está. Comentei sobre por
aqui.
2. Repulsa ao sexo,
de Roman Polanski: não há melhor filme sobre esse fantasma que criamos e que
pode nos dominar se não soubermos freia-lo, o medo. De alguns já clássicos chamaria para este lugar O último tango em Paris, de Bernardo Bertolucci, filme que eleva o erotismo e o sexo ao signo poético da celebração artística. Recortei notas da lista dos
100 melhores da Revista BRAVO! para um aqui e para o outro aqui.
3. Maurice, de James
Ivory: baseado no romance homônimo de E. M. Forster, o filme trata de um amor
proibido entre dois rapazes. Questões sociais sobre a descoberta sexual, o convívio
com o desejo, tudo numa época em que a homossexualidade, além de socialmente
condenada era considerada crime na Inglaterra do século XIX.
4. A pele que habito,
de Pedro Almodóvar: os limites entre o amor e o ódio, a loucura e a razão, a
ética e seu desrespeito, tudo aí transcende num thriller vertiginoso que só é
dado à capacidade inventiva do diretor espanhol.
5. O barco da esperança,
de Moussa Touré: uma odisseia contemporânea, um mergulho nos sonhos de
africanos de várias partes do continente em chegar a uma terra prometida. Dos dezessete
filmes que pude ver no Festival Varilux de Cinema Francês este fica-me aqui
como um dos prediletos. Acrescentaria ainda Polissia. Fiz notas para todos os filmes vistos. Sobre este de Touré pode ler aqui.
6. A invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorcese: além de reconhecer a fantasia (na figura do cineasta homenageado, Méliès, o filme recupera a capacidade do cinema em 'captar' a realidade e transmutá-la, real propósito dos irmãos Lumière. Notas aqui.
7. Para Roma com amor,
de Woody Allen: tive oportunidade de ver outros trabalhos de Allen este ano,
mas neste o diretor, se aperfeiçoa (mesmo sem se reinventar) no tratado da crônica
cinematográfica. Leia mais aqui.
8. Na estrada, de
Walter Salles: rica leitura de On the Road,
título homônimo de Jack Kerouac para as telas. Notas aqui.
9. As aventuras de
Tintim, de Steve Spielberg: o filme me foi uma das surpresas do ano. Notas sobre o filme aqui.
10. Prometheus, de
Ridley Scott: um retorno do diretor aos tempos de Alien, outra odisseia, agora futurista, um mergulho nos sonhos mais
caros da humanidade: de onde viemos, quem somos, para onde iremos. Leia o que redigi sobre o filme aqui.
Comentários
a escolha deve ser entre os títulos da sessão livros, por isso seus comentários foram removidos.