Os Contos reunidos de João Antônio
Por Pedro Fernandes
Este é um autor brasileiro que, para a maioria da público leitor, ainda permanece por conhecer, certamente. Por duas
razões: a primeira é o próprio desconhecimento por parte de grande maioria dos
brasileiros; a segunda é a grande celebração que o autor tem entre os
principais nomes da crítica literária nacional, como Alfredo Bosi, Tânia Macedo...
O próprio Antonio Candido, para citar uma viga-mestra da crítica literária, assim se pronunciou sobre o escritor paulista: “João Antônio faz para
as esferas malditas da sociedade urbana o que Guimarães Rosa fez para o mundo
do sertão, isto é, elabora uma linguagem que parece brotar espontaneamente do
meio em que é usada, mas na verdade se torna língua geral dos homens, por ser
fruto de uma estilização eficiente”.
Isso porque a ficção de João Antônio empresta
a profundidade da filosofia e da teoria literária aos tipos marginais e os
abandonados pela vida que povoam suas histórias; nas suas narrativas atuam personagens que
estiveram boa parte de sua existência fora do elenco tradicional: o malandro, o
menino de rua, a prostituta, o cafetão, o leão-de-chácara, o flanelinha, o
informante da polícia e o traficante, e quase todos assumem a voz narrativa.
João Antônio nasceu em 27 de janeiro de 1937 e foi
encontrado morto em sua casa no dia 1º de maio de 1996. Seu primeiro livro publicado saiu em 1963 – Malagueta, Perus e
Bacanaço (já reeditado pela casa que publica agora seus contos completos em 2004); nele, se conta a história de três malandros paulistas. Com esse livro, o escritor arrebatou dois Prêmios Jabuti e foi traduzido para oito idiomas.
Autor profícuo, depois
do livro de estreia, João Antônio publicou mais vinte obras, entre elas, Leão de chácara (1975 e reeditado também pela Cosac Naify em 2007), Malhação de Judas (1976), Casa dos loucos (1978), O Calvário e porre do pingente Afonso
Henriques de Lima Barreto (1979), Dedo-duro (1981) e Abraçado
ao meu rancor (1986).
Para dar voz a personagens marginais, João Antônio foi não apenas
um observador agudo mas um conhecedor apaixonado, que misturou a própria vida
nos ambientes em que elas viviam, do botequim à zona do meretrício, da estação
de subúrbio ao cais do porto, do salão de sinuca à favela.
João Antônio foi um mestre do conto,
como hoje é, por exemplo, Sérgio Sant’Anna. Uma das grandes novidades para fins
de 2012 é que, pela primeira vez, toda sua produção contística publicada
em livros foi reunida num único volume.
A edição com projeto editorial reconhecido da Cosac Naify reúne os já citados como publicados pela editora Leão de chácara, Dedo-duro,
Abraçado ao meu rancor mais Malagueta, Perus e Bacanaço e Um herói sem paradeiro.
Além desses títulos, essa reunião ainda
agrupa dois outros contos dispersos e um inédito: “Um preso”, texto publicado
pela primeira vez no jornal O tempo,
em 1954, e que pode, portanto, ser considerado como a estreia literária do
autor; “Bolo na garganta”, conto integrante da coletânea Meninão do caixote, de 1983; e o inédito “A um palmo acima dos
joelhos”, que foi encontrado praticamente sem retoques entre os papéis do
autor no arquivo da família e narra a primeira vivência amorosa de um
menino.
O volume é completado com um aparato crítico sobre a obra de João Antônio; podem-se ler textos assinados por Antonio
Candido, Jorge Amado, Paulo Rónai, Alfredo Bosi e Tânia Macedo.
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