Argo, de Ben Affleck

Por Pedro Fernandes




A lista de filmes protagonizados ou que apenas tiveram participação de Ben Affleck ultrapassa, com certeza, umas três dezenas; como sempre com todo ator, muitos chegaram até nós pelo cinema, como Pearl Harbor ou Armagedon, outros nunca nem sequer ouvimos o título, The Third Wheel ou Daddy and Them. E, para dar uma opinião muito sincera, apesar do bom porte do ator e seu ar de galã anos 1950, prefiro vê-lo por trás das câmeras. Até agora, as três produções que o ator pousou de diretor, Medo da verdade, Atração perigosa e o último Argo, foram, a meu ver, matéria de grata surpresa. Abro espaço para falar da produção mais recente, assumindo o débito de depois comentar acerca das outras duas. É que Argo esteve até outro dia nas grandes telas e deve chegar em breve às locadoras e lojas no formato de DVD. Óbvia escolha, portanto.

Quando afirmo que as produções de Affleck têm me rendido grata surpresa, estou já indo na direção contrária do que sondou alguma parte da crítica especializada de cinema: alguém terá soprado que este Argo entra já para a lista de blockbusters medíocres. Não é verdade. Argo segue à risca um fato ocorrido pelo fim da década de 1970, quando no auge da revolução iraniana, os Estados Unidos, mais uma vez havia metido os pés pelas mãos em terreno político alheio, apoiando o Xá deposto. Além de seguir fatos reais, o filme toma do livro Master of disguise: my secret life in the CIA, de Antonio J Mendez e num texto publicado na revista Wired.

Mas, o tom histórico, buscado a todo custo ser respeitado como se estivéssemos diante de um roteiro de documentário, com direito a voz narrativa em off e tudo, se coaduna com um enredo muito bem elaborado em que a matéria principal da trama, por várias vezes, se debanda para o metacinema, esse modelo linguístico não tão novo, mas bastante explorado nas produções contemporâneas (mesmo o filme estando relacionado a um filme que nuca existiu de fato texto ficcional).



De modo que, mesmo estando diante de uma recriação ficcional o filme atende a duas direções do público: para o caráter informativo e para o caráter de entretenimento, ou, entreter para informar. É que o fato histórico a que se atém o enredo não é de um todo esclarecido em qualquer livro de história. O envolvimento dos Estados Unidos na política do Irã tem um preço um tanto simbólico de seu desastre quando a embaixada do país é invadida por militantes islâmicos e estudantes exigindo a extradição do Mohammad Reza Pahlavi. Na época, o líder estava sob asas estadunidenses com a justificativa de tratamento de saúde. Mas, um grupo de seis pessoas consegue sair da embaixada antes da invasão e fica sob guarda do embaixador do Canadá. Diante da situação, é o Serviço Secreto dos Estados Unidos que engendrará um plano de resgate sem que os civis sejam descobertos pelas autoridades e do povo iraniano. Inicia-se então uma corrida contra o relógio: por em prática o plano mirabolante e fictício, diga-se, de produção de um falso filme, Argo – por isso o título do enredo de Affleck – para conseguir tal empreitada.

Não precisa ir aos finais para saber em que fim poderá restar esta história. É possível que, se o desfecho fosse outro, talvez Affleck, como bom e patriótico filho de seu país, não se interessasse na produção desse material para o cinema. E, por este mesmo espírito de nacionalismo dos estadunidenses não será estranho que o filme compareça à lista do Oscar em 2013, com alguma nomeação, e até leve alguma estatueta. Mas, por nas telas estes fatos servirá não apenas para o enaltecimento de uma nação em seu auge das operações secretas – esta só foi revelada durante o governo de Bill Clinton – como para reforçar, no mundo, o espírito que não se abala em quaisquer escaramuças e uma delas pode ser esta crise no capital que tem deixado seus rastros no país e fora dele.

Se concorrer ao Oscar não ganhará é, caso haja (e não vai haver) uma indicação para melhor ator para Affleck. Dizendo isto, justifico porque é preferível vê-lo por trás das câmeras. É que Affleck, não sei pelo excesso de pelo – no filme a cabeleira anos 1970 se junta a uma barba fechada – não é possível detectar um ruga sequer de expressão para as mais variadas situações. Aflição, apreensão, indecisão, são definidas sempre pelo mesmo rosto e isso talvez seja um dos males do filme.

Já quanto ao enredo, excluindo o caráter maçante da primeira parte, a de montagem da narrativa, o restante consegue, sim, que façamos caras e bocas de aflição, apreensão e indecisão quanto ao desfecho. Não gosto de usar notas e termômetros para avaliações, mas posso garantir que numa reta entre ruim e ótimo, o filme fica no meio da escala, com o bom. E já estaremos em bom tamanho para uma produção que destoa um tanto daquilo que Affleck já produziu na sua curta carreira de diretor.


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