Alexandre O’Neill





Há muitos poetas portugueses que precisam ser descobertos no Brasil. Como há muitos poetas brasileiros, certamente, que também precisam ser descobertos em Portugal. Não é o fato de interdependência literária; é o fato de intercâmbio literário. Porque, e disso muitos sabem, já apartamo-nos de determinados moldes europeus, inclusive o molde português, há algum tempo e temos um rico sistema literário, principalmente quando nos referimos à poesia. Mas, somos leitores de uma mesma língua e é inútil ampliar certo apartheid que parece vigorar entre os dois lados do Atlântico desde há algum tempo.  

No passado 19 de dezembro, na página do Letras no Facebook, lembramos do aniversário de Alexandre O’Neill, nascido em 1924. Foi quando, pesquisando sobre sua biobibliografia, encontramo-nos com um poeta com vida integralmente dedicada ao fazer literário, ultrapassando, por todos os ângulos dos limites o gênero no qual mais destacou e no qual se iniciou, ainda em 1942. Mas, curiosamente, até o presente é um autor por se conhecer no Brasil.

Sobre O’Neill, diz Laurinda Bom, em texto para a revista Colóquio-Letras, que este a convite de Ribeiro Couto envia-lhe os poemas publicados na 6ª edição da revista Litoral, lidos por Almada Negreiros, um dos nomes mais significativos do modernismo português, como algo que o então jovem deveria ‘tomar a sério’. Mas, ainda antes da publicação na Litoral os três primeiros poemas seus são publicados no jornal Flor do Tâmega.

A importância desse poeta para a literatura portuguesa nasce com sua aproximação com o movimento surrealista francês, do qual terão participado ainda nomes como Mário Cesariny e Herberto Helder. Já na metade do século XX, o grupo, assessorado por António Ramos Rosa e Egito Gonçalves, o poeta aparece numa publicação coletiva que se tornou símbolo de um dos grupos do Surrealismo em Portugal, a revista Árvore.

Durante muito tempo, O’Neill, descendente de irlandeses e nascido em Lisboa, trabalhou, depois de frequentar o curso de pilotagem na Escola Náutica, na Previdência, depois nas bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian e, mais tarde, como técnico de publicidade. Nas Letras, foi cronista semanal do Diário de Lisboa. E seu interesse pelo surrealismo data de 1947, em duas cartas: numa aparece dizendo possuir já os Manifestos de Breton e a Histoire du Surrealisme de M. Nadeau. É nesse mesmo ano que ele se une a Cesariny e Mário Domingues e começam a fazer experiências a nível da linguagem, nessa linha estética: publicam Cadáveres esquisitos e diálogos automáticos.



Um ano depois, ao lado de José-Augusto França, António Domingues, Fernando Azevedo, António Pedro e Vespeira montam o Grupo Surrealista de Lisboa. Depois da dissidência entre os do grupo e sua subdivisão em dois, é organizada uma exposição em que Alexandre O’Neill publicou uma obra que é considerada pela crítica, paradigmática do movimento em Portugal, A ampola miraculosa. É sua primeira obra e foi também a primeira que integrará os Cadernos Surrealistas.

A extinção do grupo do qual O’Neill fez parte e do grupo dissidente, isso depois de 1952, não terá sido suficiente para um aplanamento do surrealismo em Portugal porque o próprio poeta continuou publicando trabalhos que foram considerados por ele como integrados ou herdados a essa estética. Mas terá de chegar, seis anos depois, o livro No reino da Dinamarca, para ser consagrado como poeta. Daí, se seguiram Abandono vigiado, Poemas com endereço, Feira cabisbaixa, De ombro na ombreira, Entre a cortina e a vidraça, A saca de orelhas, As horas já de números vestidas e Dezanove poemas, esses dois últimos acrescidos as antologias editadas em 1981 e 1983. Na prosa foi autor de As andorinhas não têm restaurante e Uma coisa em forma de assim.

Apesar de militar em nenhum partido político, durante ou depois do longo período de ditadura em Portugal, não deixou e ser vigiado pela PIDE, a polícia política do regime, e esteve preso por 21 dias, simplesmente pelo encontro com Maria Lamas depois desta regressar do Congresso Mundial da Paz em 1953.

O poeta morreu em Lisboa no dia 21 de agosto de 1986 depois de um período de deterioração da saúde começado em 1976, quando sofreu um ataque cardíaco; sua condição é agravada quatro anos mais tarde quando sofreu um acidente vascular cerebral, que o levaria a um prolongado internamento no hospital. Depois da sua morte, sua obra poética foi reunida sob o título Poesias completas e em 2005, a mesma casa editorial, a Assírio & Alvim publicou um livro reunindo vários títulos inéditos em livros: Anos 70. Poemas dispersos.

A seguir apresentamos um catálogo com inéditos do poeta recolhidos de edições da Revista Colóquio-Letras, cf. poderão observar nas referências.







Comentários

Pedro, um garnde e fraterno abraço. Sucesso sempre ao teu trabalho e que sigamos em 2013 despertando mais mundos no mundo, sempre envoltos por amor de construção e muita poesia.

Feliz Natal e meu sempre carinho.

Carmen Silvia Presotto - Vidráguas!

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