Zuenir Ventura



Zuenir Ventura. Foto de Tomás Rangel.

Zuenir Ventura nasceu em de junho de 1931, em Além Paraíba, Minas Gerais. Nos primeiros anos da adolescência desempenhou várias funções, desde contínuo no Banco Barra do Piraí a faxineiro do Bar Eldorado e balconista da Camisaria Friburgo. Aos 23 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, quando entrou para a Faculdade Nacional de Filosofia, atualmente, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e cursou Letras Neolatinas.

Sua aproximação com a escrita, portanto, se deu nesse curso, onde foi monitor do professor Celso Cunha na disciplina de Língua Portuguesa. Como é sabido, Celso foi um dos mais importantes filólogos e gramáticos do Brasil. Depois, tornou-se redator de uma coleção paradidática dirigida por Amaral Netto, que abordava os fatos históricos da linguagem jornalística, “A história em notícia”; mais adiante, arquivista na Tribuna da imprensa.

Depois de ganhar uma bolsa de estudos do governo francês para estudar no Centro de Formação de Jornalistas em Paris, Ventura deixa o trabalho de arquivista pelo de membro-correspondente da Tribuna, fazendo coberturas históricas, como a passagem de Jango pela capital francesa antes de se tornar presidente e o encontro de cúpula entre Kennedy e Kruschev, em Viena.

No retorno ao Brasil, vai trabalhar como editor internacional no Correio da manhã e dar aulas de Comunicação Verbal na Escola Superior de Desenho Industrial da qual é um dos fundadores. Procurado pela Ditadura Militar, Zuenir Ventura consegue partir junto com sua mulher, Mary, em 1964, para uma cobertura do Festival de Cannes para o Jornal do Brasil. É nesta viagem que conhece Glauber Rocha.

Após trabalho como chefe de reportagem na revista O cruzeiro e chefe da filial no Rio de Janeiro da revista Visão, o escritor é preso pelo Regime e fica três meses encarcerado. Na mesma época também outros passavam pela mesma situação, entre eles Hélio Pellegrino e Ziraldo, como quem Zuenir Ventura chegou a dividir cela ao lado de sua mulher e seu irmão também são presos no mesmo dia, porém por menos tempo. Aliás, será graças a Pellegrino, que Zuenir consegue sair da prisão em março de 1969.

O ano será enigmático para o escritor que tem seu primeiro trabalho publicado pela Editora Abril: uma coletânea de 12 reportagens enfeixadas sob o título de Os anos 60 – a década que mudou tarde. Ainda no mesmo tom denunciatório do regime, colaborou para o roteiro do documentário Que país é esse?, de Leon Hirszman; em 1977, após assumir o cargo de chefe da sucursal da revista Veja juntou-se a outros dois jornalistas para investigação da morte de Cláudia Lessin Rodrigues, trabalho que lhe rende o Prêmio Esso.

Depois da direção da Revista Isto é e de se afastar por dez meses do jornal escreve seu livro até hoje mais famoso livro: 1968 – o ano que não terminou, livro que se torna mais tarde inspiração para a minissérie da Rede Globo, Anos Rebeldes.

Ao modo da matéria investigativa de 1977, Zuenir Ventura compôs ainda outros trabalhos do tipo, como a investigação do crime que matou Chico Mendes em dezembro de 1988. Aliás, essa necessidade de presentificação dos massacrados é grande empenho na carreira do escritor: em 1983, por exemplo, logo após as chacinas da Candelária e do Vigário Geral, ele colabora para a criação do Viva Rio, uma organização não governamental dedicada a projetos sociais e campanhas antiviolência; em 1984, após nove meses frequentando a favela de Vigário Geral, edita um livro contando sua experiência, Cidade partida, um retrato das causas da violência no Rio que ganha o Prêmio Jabuti de Reportagem.

Depois, edita o autobiográfico Inveja – mal secreto e ao fazer um retorno quinze anos depois da morte do seringueiro Chico Mendes, escreve a última parte de Chico Mendes – crime e castigo.

Com Luis Fernando Verissimo, Carlos Heitor Cony e Moacyr Scliar organizou Vozes do golpe, uma série de quatro relatos, dois ficcionais e dois documentais, sobre a experiência do golpe militar de 1964. No volume Um voluntário da pátria, escritor por Zuenir, ele rememora os acontecimentos que precipitaram o golpe, como o Comício das Reformas na Central do Brasil. A narrativa tem um papel marcante na história nacional porque é pela primeira vez que alguém narra o fato a partir do olhar de quem estava em Brasília, no centro do poder oficial; pela época, Zuenir estava assumindo uma cadeira na Escola de Comunicação da Universidade de Brasília.

Recente, se beneficiando do jogo ficção-realidade, romance-reportagem publicou Sagrada Família.


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