Uma edição dos “Cadernos de Literatura Brasileira” para Carlos Drummond de Andrade
Por Pedro Fernandes
Posso está totalmente tomado apenas pela visão de alguém
imerso no universo literário e, logo, um tanto quanto distante do comum, mas
sei que a passagem dos 110 anos de Carlos Drummond de Andrade feita há cinco dias
assinalou um momento importante para o obra do
autor no cenário brasileiro; é evidente que há ainda um longo trajeto a
ser percorrido.
Entre ser integralmente – ou quase – reconhecido pelos pares e
depois pelos leitores, ainda mais num país de tão poucos e fracos leitores, há uma
diferença enorme. E parece ser mesmo verdade que esse integralismo nunca
deverá acontecer porque não tenho conhecimento, e quero está enganado sobre
isso, de um escritor que seja unanimidade nacional.
Mas, o reconhecimento entre
os do universo literário será grande coisa, se pensarmos na quantidade de anônimos que não foram capazes de receber desse universo igual reconhecimento que alcançou um Carlos
Drummond de Andrade. Não é mérito meu fazer agora uma discussão sobre cânone,
porque sei que, decisões políticas à parte, estou num território onde uma
coisas tem igual importância: é preciso ter realmente talento para merecer
reconhecimento e permanecer entre os reconhecidos. E aqui abro um curto parêntese para dizer
do perigo que é está nessa condição que é o de não ser lido como deveria, uma vez ser
de conhecimento de todos as conveniências.
Mas, essa introdução um tanto estendida serve para falar de
outra ação que aconteceu ainda na passagem dos 110 anos de Carlos Drummond
de Andrade: o poeta tornou-se, agora, um dos protagonistas para os famosos Cadernos de Literatura Brasileira, uma publicação
do Instituto Moreira Salles, que chega assim numa 27.ª edição depois de visitar nomes
como os de Ferreira Gullar, João
Cabral de Melo Neto, Hilda Hilst, Lygia Fagundes Telles, Machado de Assis,
Clarice Lispector, João Guimarães Rosa, Euclides da Cunha etc. Alguns já
disponibilizados on-line, por aqui.
Desde que começaram a ser publicados, em 1996, os Cadernos
perseguem o objetivo de oferecer aos pesquisadores e interessados em literatura brasileira uma perspectiva aberta e simultaneamente tradicional sobre importantes figuras
das nossas letras.
Na edição em homenagem a Carlos Drummond de
Andrade, organizada por Rodrigo Villela, a trajetória do poeta vem ilustrada
nas seções: “Memória seletiva”, numa cronologia organizada por Eduardo Coelho; “Guia”,
uma bibliografia passiva acerca da obra do criador mineiro, compilada e organizada por
Eduardo Sterzi; e “Drummond por ele mesmo”, reunindo declarações assinadas pelo
próprio poeta em entrevistas e livros e que foram pinçadas por Michel Laub.
Além dessas seções, a edição traz um conjunto de ensaios, composto por nomes como
Humberto Werneck, Silvano Santiago, Eucanaã Ferraz e Ferreira Gullar; traz ainda um ensaio fotográfico
sobre Itabira, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, cidades onde viveu e com as quais o poeta desenvolveu sua intimidade memorial e criativa.
O leitor acessa ainda uma série de datiloscritos para poemas,
como “Carta a Stalingrado” – texto escrito em 1942 e publicado depois em A rosa do povo (1945) e um dos pontos
altos da poesia engajada de Carlos Drummond de Andrade dando contas de uma das batalhas mais sangrentas da
Segunda Guerra Mundial – e “Nota social”, um poema escrito em 1923 para a seção
“Sociais” do jornal Diário de Minas,
onde o poeta começou a trabalhar em 1921 e que depois veio integrar seu
primeiro livro, o Alguma poesia,
publicado em 1930.
Entre esses materiais de arquivo, está também a reprodução de um raro manuscrito de um texto feito em 1911, aos 9
anos; raro não apenas pelo tempo, mas pela forma: como terá notado o blog Prosa on-line, de onde coleto as
informações, aqui repassadas; “apesar de sua impressionante produção, o número de originais é
muito reduzido. Os que permaneceram não são de trabalho, mas cópias, e os
datiloscritos geralmente são versões enviadas à editora, para publicação.”
* As informações são do blog Prosa on-line, bem como a reprodução dos datiloscritos.
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