Um inédito de João Cabral de Melo Neto e outras novidades em torno do poeta
O poeta João Cabral de Melo Neto em cena do filme Liames, o mundo espanhol de João Cabral de Melo Neto, em 1979. Foto: Instituto Moreira Salles. |
Já desde 2007 que a obra de João Cabral de Melo Neto começou
a ser integralmente reeditada. De lá para cá, já se somam 12 títulos
publicados. O destaque nesta reedição, até o presente é a publicação póstuma Ilustrações para fotografias de Dandara,
livro que dá contas de um álbum criado pelo poeta para matar as saudades da
neta, quando era embaixador do Brasil no Senegal. É o João Cabral despido do
rigor estético, mas ainda da escrita breve, mas agora, coloquial.
Na época, sempre eram remetidas correspondências com fotos
de Dandara, as quais motivavam o avô a logo compor versos para a neta. Em 1975,
já com um material reunido num caderno e considerável, João Cabral despacha
para o Brasil com o título de “Ilustrações para fotografias de Dandara”. Guardado
como relíquia de família pela mãe, Inez, foi a própria Dandara quem decidiu
tornar o material público.
Agora, para o próximo ano, a Alfaguara Brasil prepara uma edição
inédita. Trata-se de um manuscrito assinado por João Cabral, mas incompleto,
escrito em forma de auto e que foi guardado por Inez, que já está trabalhando
na organização do texto. Intitulado Notas
para uma possível casa de farinha o inédito, diz Inez, tem seu mote no medo
da modernização das antigas casas de farinha e as incertezas dos sertanejos no
período de implantação da Sudene, na década de 1960.
O manuscrito foi dado à filha já pelo pai no final da vida, quando João
Cabral enfrentava sérias dificuldades com a cegueira.
Capa da antologia O rio, organizada pela filha do poeta e editada pela Alfaguara e Livraria Saraiva com poemas que tratam da relação de João Cabral com o rio Capibaribe |
Até lá, chega às livrarias uma edição que presentifica o rio
Capibaribe na obra do poeta. Presença constante desde O cão sem plumas até Morte e
vida severina, a antologia intitulada O rio é organizada também por Inez Cabral, prefaciada pelo escritor português
António Lobo Antunes e publicada conjuntamente pela Alfaguara e pela Livraria
Saraiva, único local onde o livro será comercializado.
Segundo Inez, a seleção se pautou pelos poemas ricos em elementos
que mostram a formação sertaneja do pai, da infância à adolescência, entre as
décadas de 1920 e 1940.
Abaixo, deixamos um recorte de Ilustrações para fotografias de Dandara, poema antes publicado no caderno de cultura do Estadão.
POEMA 7
D., nesta fotografia
reviajo vinte e cinco anos:
regresso a tua...
...mãe menina
em Barcelona, aos dois anos
Reviajo à mesma pessoa
que nasceu pra dizer não,
que embora tenha
vivido
pra ser desafirmação,
reencontrou na filha um sim
a que condicionou a vida
(não o Sim convencional:
o possível Sim da vida):
que ela não é o sistema
mas coisa de sim e não vestida,
e vejo em como te veste, no limpo em que estás
vestida.
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