Meio século do Boom literário latino-americano que mudou os rumos da literatura de língua espanhola
Na foto, três protagonistas do Boom: Vargas Llosa (com sua mulher Patricia), José Donoso (e sua mulher Pilar Serrano) e Gabriel Garcia Márquez com sua mulher, Mercedes Barcha. Foto: El País. |
1962 foi um ano prodigioso para a literatura de língua
espanhola. Naquele ano, no Chile, era realizado o Congresso de Intelectuais de
Concepción e pela ocasião foram publicados oito livros que se tornariam elementares
para a literatura contemporânea na América Latina. Dentre eles, O século das luzes, de Alejo Carpentier,
A morte de Artemio Cruz, de Carlos
Fuentes, A cidade e os cachorros, de Mario Vargas Llosa. Fiquemos apenas
com estes três romances porque representam a gênese de três grandes escritores
que se tornaram universais. Um deles, Vargas Llosa, recebedor do mais
importante prêmio literário, o Nobel.
É por essa ocasião, vista como o ponto de partida para se
criar, no mundo, um olhar mais acurado com o produzido nas letras da América
Latina ou mesmo revelar nomes e descobrir novos mestres da escrita que chegamos
ao que ficou chamado de Boom latino-americano. Tudo pareceu obra de uma feliz
coincidência de autores e obras díspares numa única década.
Basta que se acrescente aos nomes já citados nomes como
Gabriel Garcia Márquez, outro jubilado com o Prêmio Nobel de Literatura, Mario
Benedetti, Julio Cortazar, Juan Carlos Onetti, Jorge Luis Borges, Juan Rulfo
para ver o tamanho da potência deste boom; o que não se pode querer é que, como
a espontaneidade de boom, tenha sido esta uma literatura que nasceu de um
instante para outro. “Há uma explicação sociopolítica conjuntural para que fosse
vivida tanta literatura nova como uma complexa epifania do gênio literário
americano”, sugere Jordi Gracia num texto para o caderno de cultura do jornal El País, “Boom: literatura sin complejos”.
O Boom terá sido tão importante para o cenário da literatura
latino-americana, em primeiro plano, porque terá despertado nas gerações pós-boom
a necessidade de superar ou pelo alcançar o limite desenhado por aqueles
escritores. Não é à toa os nomes como Roberto Bolaño ou Ricardo Piglia, para
ficar em dois nomes mais conceituados dess contemporâneo lugar literário. Concordando
aqui com o dito por Gracia: “Num olhar sintético, ou de um só golpe, a produção
narrativa dos anos cinquenta e sessenta segue despertando a intuição de uma
vertigem incontrolável”. É verdade que a união, antes inimaginável, entre a
vanguarda política e anticapitalista da América com a vanguarda estética da
literatura foi um dos elementos que foram se desfazendo, como assinala Pablo Sánchez
no texto já citado de Gracia. Mas, todo movimento tem suas evoluções e seu fim. Não terá sido assim com a Literatura de 1930 no Brasil?
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Aproveitando a ocasião, deixamos aqui a dica de fazer uma
visita à uma página especial sobre esse importante momento da literatura de
língua espanhola conduzida pelo El País (aqui). Parte da série de matérias aí publicadas pode ser acompanhada
também no blog Papeles perdidos. Encontrarão além do texto de
Gracia aqui citado, uma série de postagens feitas desde
segunda-feira, 12 de novembro, e que se estenderá até o sábado, 17. É possível
ler sobre as raízes e os precursores, as tramas, os autores que influenciaram
e-ou foram influenciados pelo Boom, as mestiçagens linguísticas na literatura
do período, o que foi no ano de 1962 e suas implicâncias mundo afora, os marcos
da literatura latino-americana do século XX, ver vídeos, imagens e muita coisa
bacana para se inteirar sobre. Vale a pena acessar.
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