10 filmes a partir da obra de Liev Tolstói


Os leitores brasileiros, sobretudo depois do nascimento do que poderíamos chamar de escola da tradução para o português direta do russo inaugurada muito recentemente por aqui, têm construído uma saudável aproximação com uma das obras mais importantes da literatura universal, a de Liev Tolstói. Mas, a obra do escritor russo não é apenas isso; é também um terreno fértil para outras criações artísticas. Entre elas, o cinema. E é sabendo disso, no ano em que aparece uma nova releitura de Anna Kariênina para a grande tela, que preparamos esta listinha com algumas peças muito raras, mas indispensáveis ao leitor interessado em ver através da imagem o que encontrará através das letras.



Anna Kariênina, 1967, de Aleksandr Zarkhi. Este talvez seja o romance de Tolstói mais adaptado. Antes da versão de agora por Joe Wright que traz Anna Kariênina vivida pela atriz Keira Nightly, teve o filme de 1935, quando saiu da primeira adaptação do romance com a personagem vivida por ninguém menos que a diva Greta Garbo; era um filme dirigido pelo estadunidense Clarence Brown. Depois, em 1948, Anna ressurge na pele de Vivien Leigh, a musa de E o vento levou. E, em 1997, o diretor britânico Bernard Rose deu o papel para a atriz francesa Sophie Marceau. Mas, de todas as adaptações, essa de 1967, apesar de ser a mais desconhecida desse lado de cá, é a mais bem quista pela crítica porque trata com fidelidade e sobriedade a obra do escritor russo. Aqui, Tatyana Samoylova é quem vive a personagem tema do romance.

Aien Kyo, 1937, de Kenji Mizoguchi. Apesar de raro, é possível encontrar esse filme entre os vídeos postados no Youtube. O romance já havia ganhado o gosto do cinema em 1915, quando o diretor russo Pyotr Chardynin fez uma adaptação; peça no cinema italiano e chinês, anos mais tarde, a versão japonesa, tal como o Anna Kariênina de Aleksandr Zarkhi, é a que trata o livro Ressurreição com melhor sensibilidade.

Voskreseniye, 1960, de Mikhail Shvejtser. Esta é outra adaptação de Ressurreição tida pela crítica como uma das melhores já feitas a partir desse romance de Tolstói.



Noites com sol, 1990, dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani.  A obra que serviu de inspiração para o filme foi o conto Padre Sérgio. Descrita pela crítica como um filme belíssimo, raro e extraordinário, os Taviani traduzem com profundidade a densidade de temas como espiritualidade, fé, a busca por ser uma pessoa melhor examinadas pelo texto de Tolstói. A atenção do espectador deve se centrar no requinte da fotografia e dos figurinos, afinal este é descrito como uma das peças cujo capricho visual é acachapante.

Prisioneiro das montanhas, 1996, de Sergey Bodroy. O filme ganhou o prêmio a crítica em Cannes e concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro; é uma adaptação do conto O prisioneiro do Cáucaso. José Geraldo Couto chama esta obra de antiépica e destaca que o mais interessante nela é a construção das personagens, nem unidimensionais, nem estáticas, mas seres em transformação de acordo com as circunstâncias que experimentam durante o cativeiro.  

Scarabea – wieviel Erde Braucht der Mensch?, 1969, de Hans-Jürgen Syberberg. De quanta precisa o homem é a dramática história de um homem obcecado pelo desejo de obter mais terras; às escondidas, o Diabo ouve-lhe seus desejos e lhe dá o impulso para realização de suas vontades. Não satisfeito, resolve adquiri as terras no longínquo território dos bashquires, onde é desafiado pelo chefe da aldeia a percorrer a pé durante um dia, desde o nascer ao pôr do sol, num itinerário de ida e volta a fim de ganhar ou perder tudo. Esse desafio é lido pelas lentes de Hans-Jürgen no que é o seu primeiro filme; apesar de pouco conhecido, é possível encontrá-lo também no Youtube.



O dinheiro, 1983, de Robert Bresson. Descrito como uma das peças raras do cinema francês, O dinheiro existe a partir do conto Falso cupom. Vencedor do prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes e indicado à Palma de Ouro como Melhor Filme, o drama se desenvolve a partir de quando um jovem rico coloca para circular uma nota falsa, situação que resulta no desemprego do funcionário e numa série de outros acontecimentos de ordem dramática. O filme é uma profunda reflexão sobre a influência do capital no desmantelamento das relações humanas.

O cadáver vivo, 1929, de Fyodor Otsep. O título é o mesmo de uma peça escrita pelo pouco reconhecido Tolstói dramaturgo: a última, depois de O niilista, A família contaminada, O poder das trevas e Os frutos da civilização. O filme mudo que traz Vsevolod Pudovkin e Boris Barnet, dois importantes diretores soviéticos, como atores, acompanha a busca de Fiódor Protássov, um homem encantador, fraco e pecador, pelas relações humanas autênticas no mundo tomado pela aparência e pela mentira.

Cossacos!, 1928, de George W. Hill. Quando publicou Os cossacos, em 1863, Tolstói deu uma virada na sua produção literária. Basta saber que depois da obra, dedicou-se a projetos grandiosos como Guerra e paz (entre 1865 e 1869) e Anna Kariênina (1878). O romance conta a história de Olénin, um bem-nascido mas desencantado jovem russo que se junto ao exército no Cáucaso no final do século XIX.



Guerra e paz, 1966, de Sergey Bondarchuk. O que impressionará o espectador é, assim como a extensão do romance de Tolstói, são as sete horas de filme, facilmente superadas para quem tiver se aventurado em produções como O poderoso chefão. Valerá cada hora gasta porque não há, mesmo entre as séries para TV e o Guerra e paz de King Vidor, nenhuma adaptação melhor que essa para um romance da magnitude desse do escritor russo.  


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