Voltar às origens dos textos compilados pelos Grimm

Por Pedro Fernandes

Retrato de Jacob e Wilhelm Grimm pelo irmão, o pintor Ludwig Emil Grimm, 1843


Em 2012 se comemora o bicentenário da primeira edição com a compilação de contos feita pelos irmãos Grimm. Foi neste ano também que o The Guardian anunciou o resgate de cerca de 500 histórias que estiveram guardadas por pelo menos um século e meio em Regensburg, na Alemanha, em acervo que pertencia ao historiador Franz Xaver von Schönwerth, que também coletava contos na mesma época dos irmãos Grimm. Fica o registro que também é o princípio da contagem regressiva (de quanto tempo não sabemos, mas esperamos que seja breve) de tê-los em terras e língua brasileiras.

Voltemos aos irmãos Grimm. A Cosac Naify – só poderia ser ela – publicou em dois tomos a versão original das 156 histórias, nunca antes reunidas em português, e com tradução direta do alemão. Contos maravilhosos infantis e domésticos. O rico trabalho chega para – se não colocar a versão verdadeira no lugar devido, porque isso talvez não seja mais possível se pensarmos que o 'estrago' da imagem na nossa mente é muito maior do que o da leitura – chega para reconduzir um outro olhar do leitor para os textos compilados por Jacob e Wilhelm Grimm. 

É possível dizer que além de ser um encontro com as verdadeiras histórias é também uma reparação da memória dos copistas que foi, desde as adaptações realizadas por Walt Disney, acachapada, literalmente, em nome de uma docilização barata e meramente comercial dessas obras. 

O jovem gigante. Ilustração do pernambucano J. Borges 

O nariz comprido. Outra xilogravura de J. Borges.

A edição agora publicada traz os prefácios originais escritos pelos Grimm e as notas de cunho contextualizante, além de uma apresentação assinada por Marcus Mazzari e um conjunto de cerca de 40 ilustrações feitas pelo xilogravurista pernambucano J. Borges, que recupera o cenário primitivo das histórias. Como é prática da editora, além da edição convencional, foi preparada uma edição especial, com tiragem limitada: esta tem além do conteúdo aqui descrito, capa dura forrada em tecido e os dois volumes vêm acondicionado numa caixa plástica. 

Antes do trabalho de catalogação e publicação dos primeiros contos, em 1812, Wilhelm Grimm já havia publicado seu primeiro livro, um ano antes: um conjunto de lendas dinamarquesas antigas. Há registros de um primeiro manuscrito com somente 51 narrativas que teriam sido organizadas dois anos antes dos 82 contos publicados na primeira edição. 

O restante do trabalho de catalogação se dará a partir de 1814 quando Wilhelm, então secretário da biblioteca do museu de Kassel, se instala num alojamento pertencente ao príncipe de Hesse com o seu irmão Jacob, recém retornado de Paris. Três anos depois da primeira edição, os irmãos produzem então um segundo volume. 

Em vida, os Grimm ainda realizaram pelo menos outras sete edições, todas publicadas, reunindo um total de cerca de 181 narrativas, sendo a edição de 1825 a que foi sendo tomada como base para as edições subsequentes. Esta edição vinha ilustrada pelo irmão deles Ludwig Grimm.

Bom, que alegria, tanto tempo depois voltar a esse diverso e rico universo de imaginação!

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