O monge, de Dominik Moll
Este filme de Dominik Moll recupera o veio do diretor pelas adaptações
cinematográficas para obras literárias; isso porque seu primeiro filme, um
curta-metragem realizado em 1983, The
blanket, foi uma releitura de um conto de Bukowski. Já O monge é fruto da releitura do romance gótico publicado em 1796
por Matthew G. Lewis.
Com um enredo muito bem armado e bem construído, apesar de não
ser uma narrativa com surpresas maiores, já que toda atmosfera de mistério é
sempre imediatamente resolvida, ficando alguma coisa para o desfecho do filme,
que confesso, até inutilizado pela necessidade de explicação dos
acontecimentos. Teria ficado coerente com a trama se isso não tivesse
acontecido, já que, tanto no cinema quanto em outra arte qualquer, o autor tem
de sugerir e não explicar. Mas, talvez o romance no qual Moll se baseou tenha
essa característica, já que estamos diante de um texto de 1796, período em que
grande parte da matéria literária respondia uma certa obrigação em esclarecer
tudo e tenha o diretor preferido não violar tão explicitamente o material a
partir do qual produziu o filme.
O monge tem seu
ponto de partida quando um homem aparece decidido a jogar rio abaixo um bebê; o
ato encorajado é por uma mãe que se diz sem meios de conseguir criar um filho –
e isto só é revelado muito adiante na narrativa. Fato é que o homem toma a decisão
de abandonar a criança à porta de um mosteiro e os monges decidem adotar a
criança encantados pelo extenso sinal de uma mão impresso na omoplata: sinal
divino para uns e do demônio para outros. É quando se dá um corte tempo e damos
com o menino já monge, irmão Ambrósio, um pregador que arrebata multidões e de
fé e religiosidade consideravelmente irrefutáveis.
Mas, a ideia de sujeito centrado parece já sofrer suas bases
muito antes da filosofia decretar uma crise. Irmão Ambrósio não estará salvo
das tentações com a chegada ao mosteiro de um misterioso monge e o desfecho de
tudo será uma tragédia que incluiu sexo proibido, incesto e morte. O arranjo
disso tudo é que não nos parece ter sido feito da maneira que fuja do
artificialismo. Problema da direção, muito provavelmente, porque ficamos sempre
com a sensação de um extremo limite não alcançado por Vincent Cassel, o ator
que vive Ambrósio. Talvez Moll estivesse muito impregnado de O nome da rosa, de Jean-Jacques Annaud. Ganha
destaque os cenários, a fotografia e arte.
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