O desfecho da novela Kafka?

Por Pedro Fernandes

O jovem Franz Kafka, em Praga.


Parece que sim. No último dia 15, foi postado na página do Letras no Facebook, um nota que dava conta do desfecho, enfim, do caso Franz Kafka que passamos a acompanhar por aqui desde junho. A história, que bem poderia servir de mote para uma novela kafkiana, e é até possível que haja mesmo alguém recolhendo material para algo do tipo, pode ter alcançado o ponto final depois da decisão da corte de Israel.

Estava em questão uma parte do espólio que o autor de A metamorfose deixou com o amigo Max Brod com a incumbência de que esses papéis fossem apagados, coisa que, como já sabemos, Brod não fez. A disputa envolvia a Biblioteca Nacional de Israel e Eva Hoffe, já que a irmã, outra parte interessada no caso, morreu sem ver o resultado do processo.

A decisão tomada pela Corte de Família de Tel Aviv é que a coleção em posse da família Hoffe seja transferida imediatamente para a biblioteca em Jerusalém, que era este um dos desejos apontado em carta de testamento de Max Brod. 

Constam no arquivo um diário pessoal de Brod, alguns manuscritos (talvez inéditos) de Franz Kafka e um conjunto de correspondências que os dois trocaram por longa data e que poderá, no futuro, esclarecer detalhes mais específicos acerca da obra dos dois escritores. 

A decisão de agora, apesar de não ser ainda o ponto definitivo no processo, é parte do pedido de último vistas solicitado por Eva Hoffe ao tribunal israelense, instituição que deve cuidar a partir desse resultado para o encerramento do caso pela Suprema Corte e o cumprimento das ordens daí emitidas.

Do espólio deixado por Kafka com Brod é que hoje temos conhecimento de obras como O processo, O castelo ou Amerika, ou seja, da extensa parte do edifício literário do escritor. Extremamente cioso do seu ofício, ele só chegou a publicar a coletânea de contos Contemplação, as novelas Um médico rural e A metamorfose mais algum outro texto esparso em revistas literárias. Quando morreu, em 1924, havia revisado Um artista da fome, logo publicado postumamente.

Com a decisão agora tomada, a expectativa é que possam vir à tona novos textos do escritor tcheco. Mesmo sabendo que a maior parte dos papéis nesse arquivo é de Brod e não de Kafka, a soma de 40 mil páginas, certamente, abriga alguma novidade no âmbito da obra kafkiana. 

Dos achados, evidentemente não virá algo tão revolucionário tal como as suas novelas e romances, mas elementos que forneçam novos detalhes das influências e formações do autor, por exemplo, seriam bem-vindos para os pesquisadores interessados na obra e na biografia do escritor. 

As irmãs Hoffe ainda receberão os direitos por qualquer publicação que saia futuramente desse espólio. 

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