Mário de Andrade desenhista

Por Pedro Fernandes

Mário de Andrade numa rede. Lasar Segall. Paris, 1930.



"Como a totalidade da crítica, também penso que o mais curioso de Mário [de Andrade] é a sua diversidade de interesses, a aplicação que ele fez de seu talento e de sua inteligência a tantos campos de pesquisa e de criatividade, indo da ficção e da poesia aos ensaios sobre literatura, música, folclore e artes plásticas, sem esquecer o jornalismo mais livre das crônicas, os registros de viagem, a importante correspondência e até a atuação direta nos acontecimentos."

A observação entre aspas é de João Luiz Lafetá. E ele e nós conhecemos alguma coisa desse Mário diverso. Mas, faltou na extensa lista de atividades, o convívio do autor de Macunaíma com as artes plásticas. Entre 1927 e 1928 sabemos da sua viagem pelas regiões Norte e Nordeste. Desses dois périplos, ele realizou ensaios fotográficos que serviram de base para o livro póstumo publicado em 1993 pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), Mário de Andrade – fotógrafo e turista aprendiz. Foi ele o criador dos acervos fotográficos do Departamento de Cultura de São Paulo e do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

O exercício nesse território das artes plásticas permanece na altura em que ocupou esteve ligado no serviço público. Em 1935, no espaço dos Parques Infantis, criado para as crianças filhas do operariado paulistano, Mário de Andrade montou um concurso de desenho para os pequenos que frequentavam os parques do Ipiranga, da Lapa e o Dom Pedro e para as que iam à Biblioteca Municipal. 

Márcia Aparecida Gobbi, pesquisadora do IEB-USP organizou, não tem muito tempo, uma exposição com estes desenhos, acrescentando mais de 49 desenhos do próprio escritor. Mário teria começado a desenhar também quando criança e aperfeiçoado a paixão quando se aproximou de artistas como Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, dois amigos que atuaram nos desdobramentos do ideário da Semana de Arte Moderna que alcança agora os bem vividos 90 anos da sua realização.

Sobre o tema, na Universidade de Campinas (Unicamp), a própria Márcia Gobbi desenvolveu sua tese de doutorado tomando como corpus parte desses desenhos propostos e feitos por Mário de Andrade entendendo que neste trabalho residia uma valorização das manifestações infantis e a busca pelo espírito cultural do povo, elemento favorável ao desenvolvimento do escritor como ser itinerante, além de um estágio do exercício imaginativo do autor.

Mais tarde, a tese virou livro. Desenhos de outrora, desenhos de agora – Mário de Andrade colecionador de desenhos e desenhista saiu pela editora Annablume no ano passado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Mais uma das feições do homem que foi trezentos, trezentos e cinquenta.

Neste catálogo fizemos um curto recorte com alguns desenhos de Mário de Andrade; uma seleção a partir do material disponível no acervo on-line do IEB-USP.


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