Sousândrade
Por Pedro Fernandes
Há alguns anos que participei de um evento no qual assisti
uma comunicação de Ana Santana de Souza sobre O Guesa, de Sousândrade. Depois, sua tese de doutorado foi
publicada em livro, ainda disponível à venda, creio eu: A nação guesa de Sousândrade – uma narrativa de viagem.
Recupero o
episódio para dizer que foi a primeira vez que ouvi falar na existência do
escritor. Rondei pela web à cata de
mais detalhes sobre a obra e o poeta e as recolhas de notas que fiz
perderam-se. Mas, não será para falar do primeiro encontro com Sousândrade que escreverei este post. A ocasião se deve que, depois dos fragmentos
publicados entre 1867 e 1884 da edição de sua obra, agora chega às livrarias
organizada por Luiza Lobo, outra especialista na obra do escritor, uma edição revista e atualizada.
Evidente que não será
a obra definitiva, porque as lacunas e os enigmas característicos de um
escritor que não se preocupou em fazer uma obra de fácil acesso, em todos os
sentidos do termo, ainda persistem, como uma espécie da “maldição”, como chama
Luiza para o trabalho de Sousândrade. E olha que ela tem mais que autoridade
para entender essa maldição, porque já está perto dos 40 anos que se dedica
a mapear poemas dessa obra quase sem fim. A própria Luiza já escreveu dois
livros sobre a obra do escritor, Tradição
e ruptura: O Guesa de Sousândrade
e Épica e modernidade em Sousândrade.
Sousândrade é o nome pelo qual ficou conhecido Joaquim de
Sousa Andrade. Que nasceu em julho de 1832, e teve um dia a certeza de que O Guesa só seria lido cinquenta anos
após a sua morte. Morreu em São Luis, em 1902. E já depois de cem anos, ainda é
um escritor por conhecer-se. Se a previsão falhou não deixou de traduzir a dificuldade
no acesso da sua obra.
Formado em Letras pela Sorbonne, em Paris, as letras parecem
não ter-lhe sido o suficiente. Depois do curso, foi estudar Engenharia de
minas. Quando findou os estudos foi para os Estados Unidos, antes de viajar
por vários países da Europa e da América Latina. Nesse intervalo das viagens publicou Harpas Selvagens, título que substituiu o primeiro que era Harpas eólias. A primeira parte de O Guesa será publicado quando já está morando nos Estados Unidos. Neste país chegou ajudou a fundar o periódico O Novo Mundo, em Nova Iorque, onde ocupou os cargos de secretário e colaborador publicando aí alguns de seus textos.
No retorno ao Brasil, já depois de proclamada a república, ocupou o cargo na Intendência Municipal de São
Luis, realizando
na cidade uma ampla reforma no ensino, com a criação de escolas mistas. Ao separar-se da mulher e desistir de candidatar-se ao senado, foi ser professor de grego.
Terminou sua vida entregue à miséria e sua obra só foi
recuperada graças ao trabalho dos irmãos Campos, na década de 1960, quando foi
revelado como um dos escritores mais originais e instigantes do Romantismo e um dos precursores da vanguarda no Brasil.
Abaixo, disponibilizamos um fac-símile do Canto 1 de O Guesa, edição de 1874, publicada em Nova Iorque. A edição completa pode ser acessada no site da Brasiliana USP, por aqui.
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