A arte de amar, Emmanuel Mouret
Por Pedro Fernandes
Já foram escritos muitos manuais sobre o sexo; e sobre o
amor perdemos as contas. Invoquemos apenas dois exemplos, um para cada lado, o Kama Sutra, um texto indiano e um dos
textos mais antigos sobre o tema, e A
arte de amar, de Ovídio, texto do entre-séculos I a. C.–I. d. C. Ambos os
livros, entretanto, não são manuais de conduta; são sim livros sobre o
comportamento sexual a amoroso humano. O tema é um dos mais intrigantes e detém
uma das mais vastas bibliografias. E, por mais que se fale, que se estude, é
sempre inédito falar sobre. É nesse gancho do comportamento amoroso que entra o
filme de Emmanuel Mouret.
A princípio poderá parecer que a trama aí filmada tenha também
o caráter de manual ou ainda com o de investigação diante das constatações de
uma música para cada tipo de amor e da pergunta qual a música ideal quando ficamos diante de um amor verdadeiro.
Mas, logo somos conduzidos para o interior de cinco histórias, cada uma com
começos diferentes e desenvolvimentos diferentes, e percebemos que o interesse
de Mouret repousa não nessa simples investigação, nem em ser manual, tampouco sobre o jogo de coincidências aí desencadeado pela trama
dessas histórias, mas pela incapacidade de, por mais que tentemos, precisar o
princípio de uma grande história de amor, ou mesmo qual é o sentido dessa
palavrinha. E é sobre as várias formas comportamentais do amor, os seus
efeitos, as incongruências, o que esse filme quer sondar.
Um acredita que está bem sozinho e vê o amor como uma
aventura definida pela agenda telefônica, até que a nova vizinha bate-lhe a
porta e as possibilidades de aventura mudam. Outra quer deixar o marido, como
quem já vive há anos, e, nos primórdios da maturidade, sonha com a total
liberdade para realizar todas suas inusitadas fantasias. Outra ainda, no
encontro com um charmoso colega de trabalho quer experimentar outras formas de
amar sendo sincera para o namorado e decidem conjuntamente em ‘trair’ um ao
outro. Mais outra, desenvolve a teoria da solidariedade amorosa e, embora
desista da proposta, não vê mal algum em dividir o marido com a amiga ‘necessitada’.
E, por fim, outro que tem atração na colega de trabalho e ela na tentativa de
escapar do interesse prega uma peça com a dita amiga ‘necessitada’.
A vantagem nessas ocasiões é que nada caminha para a guerra dos sexos. Quando se tem amor na jogada, homens e mulheres são tragados da mesma forma. E nesse divertido carrossel, ou seria uma “Quadrilha” ao bom estilo de Drummond, Mouret vai ao epicentro das poliformas de amar constrói numa bricolagem narrativa a incapacidade do homem moderno em lidar com o mais nobre dos sentimentos.
A vantagem nessas ocasiões é que nada caminha para a guerra dos sexos. Quando se tem amor na jogada, homens e mulheres são tragados da mesma forma. E nesse divertido carrossel, ou seria uma “Quadrilha” ao bom estilo de Drummond, Mouret vai ao epicentro das poliformas de amar constrói numa bricolagem narrativa a incapacidade do homem moderno em lidar com o mais nobre dos sentimentos.
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