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Mostrando postagens de setembro, 2012

Ilustrações macabras para A divina comédia, de Dante Alighieri

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Dante Alighieri. Ilustração de Alberto Martini. Há muito que A divina comédia , de Dante Alighieri tem servido à imaginação visual dos artistas plásticos; como o trabalho feito para outras obras literárias, ganhou destaque desde sempre, os desenhos detalhistas de Gustave Doré, o mestre, sem dúvidas, na arte de ilustrar. Entre os que penetraram os nove círculos do inferno de Dante está o nome do surrealista Salvador Dalí, arte sobre a qual tivemos privilégio de apresentar e comentar nesta mesma coluna outro dia (veja o final desta post). O trabalho de Dalí certamente está no rol das curiosidades artístico-literárias, mas existirão outros de igual valor, como este que apresentamos agora: em 1901, Vittorio Alinari, então chefe da mais antiga empresa de fotografia do mundo, teve a ideia de publicar uma nova edição ilustrada do livro do poeta fundador da literatura italiana. Para divulgar a ideia,  Alinari anunciou a realização de um concurso para artistas italianos: cada um que quis

A filha do pai, de Daniel Auteuil

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Este é um filme de estreias: Astrid Bergès-Frisbey ocupa pela primeira vez o papel principal num longa; seu primeiro trabalho foi em 2008 no premiado Uma barragem contra o Pacífico , depois fez uma comédia, La première étoile , em 2009, e neste mesmo ano atuou na série para televisão La reine morte . Ainda atuou em Bruc, La llegenda , em 2010, foi uma das sereias em Piratas do Caribe – a fonte da juventude . Já Daniel Auteuil dirige seu primeiro filme. Dirige e atua. É ele o divertido poceiro Pascal Amoretti, viúvo e com um ‘batalhão’ de mulheres, suas filhas, sob sua responsabilidade. Aliás, esse é um daqueles filmes que toma como centro das atenções a rara figura do pai de família, mas sem se reduzir ao drama piegas. Pois bem, desse grupo de mulheres, a mais velha, Patricia (vivida por Astrid), é o tesouro mais valioso do pai, pela presteza no cuidado com as irmãs e com a casa. Ela é a que, pela força da circunstância desenvolve um instinto maternal desde cedo e assume para si

Declame para Drummond

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Por Pedro Fernandes Alguém pensou que um ano para Carlos Drummond de Andrade seria suficiente? O poeta que não se pretendeu (será?) ser eterno, recebe, pela passagem do seu aniversário, a ser celebrado no próximo dia 31 de outubro, mais uma ideia que, dentre os bons motivos que sustém ideias do tipo, tem outro maior: fazer conhecer a obra do poeta pela voz de outros poetas. Só digo que a ideia, atinge duas margens, a em que está situado o poeta Drummond e a em que estão situados os outros poetas. O projeto chama-se “Declame para Drummond”. Marina Mara, a mentora, iniciou tudo em 2010. Na edição passada, o projeto recebeu cerca de mil poemas enviados de todo o Brasil e expostos em forma de painel junto à estátua do poeta, em Copacabana, no Rio de Janeiro.  Para este ano, ela pensou na simples distribuição de 110 poemas pela cidade maravilhosa, mas o número de inscritos na primeira edição e o número de interessados em querer participar do projeto fez com que a coisa tomasse p

Voltar a Joseph Conrad e James Joyce

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Estou noutro mundo e não sabia. Esta foi a conclusão que tirei quando inventei de percorrer alguns lugares da ilustração, coisa que faço, percebi recentemente, com mais frequência do que imagino e mesmo depois dessa descoberta não sei quando e nem como esse papo teve início. O fato é que tenho minha admiração a meu modo pela arte de ilustrar não importando aqui que meios o artista utilize: se a fotografia, a pintura, a colagem, o grafite... Comentei, neste ano, de dois casos de grande monta: o das ilustrações de Matisse para o concorrido Ulisses , de James Joyce e do rico trabalho de Matt Kish para Moby Dick , de Melville, e para Coração das trevas , de Joseph Conrad .  *** Já antes das ilustrações de Matisse descobri as ilustrações de Salvador Dalí para Alice no país das maravilhas , de Lewis Carroll. E prometi uma post sobre esse trabalho. Deveria fazer isso agora, mas aparece-me duas outras novidades em torno de Coração das trevas e de James Joyce. É que antes de Kis

Uma das primeiras edições de Frankenstein

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A história por trás da escrita de Frankenstein é famosa. No veraneio de 1816, perto do Lago Genebra, na Suíça, Mary Shelley e Percy Bysshe Shelley foram desafiados por Lord Byron para participar de uma competição para escrever um conto assustador. Mary, de apenas 18 anos de idade, mais tarde, teve a sorte de sonhar acordada as imagens que seriam o ponta-pé para o  seu livro: When I placed my head on my pillow, I did not sleep, nor could I be said to think. My imagination, unbidden, possessed and guided me, gifting the successive images that arose in my mind with a vividness far beyond the usual bounds of reverie. I saw — with shut eyes, but acute mental vision, — I saw the pale student of unhallowed arts kneeling beside the thing he had put together. I saw the hideous phantasm of a man stretched out, and then, on the working of some powerful engine, show signs of life, and stir with an uneasy, half vital motion. Foi isto o que, mais tarde, se tornou o núcleo de  Frankenstein

A vida vai melhorar, de Cédric Kahn

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Por Pedro Fernandes Olhando o currículo de Cédric Kahn é perceptível, mesmo sem ter assistido outras produções suas, que a incursão feita neste A vida vai melhorar tem um caráter inédito, do ponto de vista do enredo. Seu primeiro longa veio em 1993, O bar dos trilhos , selecionado para o Festival de Veneza; depois, Trop de bonheur , O tédio , este baseado no livro de Moravia, depois Luzes vermelhas , outra adaptação literária, agora de uma obra de Simenon, e O avião , um conto infantil e por fim, antes de A vida vai melhorar , Arrependimentos . A crítica especializada classifica A vida vai melhor como um filme extraordinário. E é mesmo. Contemporâneo demais para o tempo em que foi produzido, uma vez que toma como ponto de partida e faz desse ponto elemento fundamental para o andamento da narrativa, a crise financeira que anda solapando economias ao redor do mundo. Em cena, Yann, um cozinheiro que descontente com o trabalho e sonhando alto na possibilidade de ser dono

H G Wells

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H G Wells nos estúdios da BBC. Foto: BBC Hoje, 21/09, é aniversário de H G Wells, um dos escritores ainda não incluídos na lista “Os escritores”, aqui no blog, mas que, pela ocasião merecida, passa a ocupar. Seus dois livros mais conhecidos do público brasileiro, evidente que os aficionados por ficção científica deve ter outros na lista, é A máquina do tempo e A guerra dos mundos , ambos adaptados para o cinema em 1960 e 2005, respectivamente. Basta somente esses dois livros para enquadrá-lo no topo de tudo aquilo que conhecemos sobre ficção científica até hoje; são, por assim, dizer, clássicos do gênero. Mas, acrescento por conta própria outro texto do escritor britânico: Em terra de cego , único, aliás, que já tive a oportunidade de ler, quando redigia ainda minha dissertação de mestrado. Considero um texto singular pela sua capacidade alegórica de falar do caráter totalitarista sustentado pelos aparelhos ideológicos do Estado. Orson Welles em estúdios da CBS.

Os 10 mandamentos de Zadie Smith para escritores

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Ai, os duelos com a palavra! Até os que escrevem mesquinharias para um blog como este têm os seus. E se for diário, diariamente duela. O fato é que os que estão de fora terão sempre a falsa sensação de que os que vivem da palavra têm um conjunto bem detalhado e único de macetes que, seguidos ao pé da letra lhe darão o caminho do ouro. Mas, não é bem assim. É verdade que cada um tem seus próprios rituais, que cada um tem seus macetes, mas nem tudo deve ser levado tão a sério. Algumas dicas, quando referidas ao processo de escrita, hão de ser úteis, de fato, nem seja para que criemos os nossos próprios macetes também. Por que não? Em meados de 2010, o New York Times foi procurar entre os autores mais conhecidos de hoje 10 regras básicas de escrita e entre as consultas estão as respostas de Zadie Smith. 1. Quando ainda criança, leia muitos livros. Passe mais tempo fazendo isso que qualquer outra coisa. 2. Quando adulto, tente ler seu próprio trabalho como um estra

A arte de amar, Emmanuel Mouret

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Por Pedro Fernandes Já foram escritos muitos manuais sobre o sexo; e sobre o amor perdemos as contas. Invoquemos apenas dois exemplos, um para cada lado, o Kama Sutra , um texto indiano e um dos textos mais antigos sobre o tema, e A arte de amar , de Ovídio, texto do entre-séculos I a. C.–I. d. C. Ambos os livros, entretanto, não são manuais de conduta; são sim livros sobre o comportamento sexual a amoroso humano. O tema é um dos mais intrigantes e detém uma das mais vastas bibliografias. E, por mais que se fale, que se estude, é sempre inédito falar sobre. É nesse gancho do comportamento amoroso que entra o filme de Emmanuel Mouret. A princípio poderá parecer que a trama aí filmada tenha também o caráter de manual ou ainda com o de investigação diante das constatações de uma música para cada tipo de amor e da pergunta qual a música ideal quando ficamos diante de um amor verdadeiro. Mas, logo somos conduzidos para o interior de cinco histórias, cada uma com começos diferen

Tolstói e os anos de aprendizagem

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Por Pedro Fernandes Qual a idade adequada para se aprender um ofício, ou começar a trabalhar numa ideia, ou a mudar o rumo da vida? Alguns concordam que há uma idade para tudo, outros dizem que você nunca está velho demais para fazer algo novo. Vou, antes de me deter no exemplo de Tolstói, dizer um que conheço de cor: José Saramago escreveu seu primeiro romance aos 27 anos. Desestimulado, trocou a ideia de ser escritor de romances para ser cronista. Exercitou em silêncio o ofício e se tornou um romancista aos cinquenta e tantos quando já havia feito de um tudo e consagrou-se em 1998, com a recepção do Prêmio Nobel de Literatura, o primeiro dado a um escritor de língua portuguesa. Pois bem, o Magazine , do jornal The New York Times numa publicação do dia 14 de setembro recorreu ao caso de quatro celebridades que fizeram algo de novo nas suas vidas quando já a grande maioria poderia achar que elas não poderiam fazer na idade em que se encontravam: a cientista Marie Curie, pioneira

Ouvir Moby Dick

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Moby Dick , de Herman Melville, é sem dúvida uma das maiores obras da literatura norte-americana, em amplo sentido. E a dimensão do romance será uma das coisas que faz a obra ser pouco lida, pelo menos na íntegra, já que os dias de agora parece que estão para as narrativas breves. No entanto, se você está adiando a obra-prima de Melville desde que se esquivou da leitura na faculdade, talvez esteja com sorte, só talvez; é que o escritor Philip Hoare e artista Angela Cockayne criaram juntos “Moby-Dcik Big Read”, um projeto incrível e ambicioso que quer levar o romance para as massas. E aí, se você entende bem o inglês, está feito. Para o projeto, figuras famosas como Tilda Swinton, John Waters, Miéville China, Benedict Cumberbatch e até mesmo primeiro-ministro britânico David Cameron lerão as seções do livro em voz alta com vistas à transmissão online, criando um audiobook.  O projeto publicará um novo capítulo por dia – e pode desde já ser o seu novo ritual matinal para

Ilustrações de Édouard Manet para Allan Poe

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Egar Allan Poe em desenho de Édouard Manet Edgar Allan Poe terá sido o vício da admiração para muitos grandes escritores: cá, no Brasil, sabemos do apreço de Machado de Assis e Haroldo de Campos que resolveram fazer uma tradução d’ O corvo ; em Portugal ninguém menos que Fernando Pessoa; na França, Baudelaire e Mallarmé se apaixonaram por sua obra assim que a conheceram. No caso do segundo poeta, ele trabalhou quase uma década dedicado à tarefa de traduzir os versos do americano, que foram sendo publicados esparsamente na imprensa francesa e, por fim, organizados num livro que teve desenhos, retratos e vinhetas de Édouard Manet, no final do século XIX. As ilustrações, além de serem as primeiras da relação Mallarmé-Manet, que em 1887, publicariam “L'aprés-midi d'un faune”, poema do poeta francês ilustrado pelo artista, inauguraram uma nova expressão pictural e poética na poesia de vanguarda moderna, que surgia cheia de reinvenções propondo misturar-se a elementos

Aqui embaixo, de Jean-Pierre Denis

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Por Pedro Fernandes A que nível de cegueira alguém pode ser reduzido quando desenvolve por alguém uma paixão sem limites? Boa parte ou se não todo mundo haverá de concordar que não há níveis, que há paixões incondicionais. Talvez seja sobre esses limites incapazes de precisar na maioria dos casos do tipo o mote para este drama histórico de Jean-Pierre Denis. Num retorno ao fim de 1943, durante a ocupação nazista na França, fato da Segunda Guerra Mundial, o diretor francês recupera a história entre a Irmã Luce, religiosa e enfermeira no hospital de Périgueux, e o capelão Martial. Ela desenvolve uma fé plena na igreja católica desde a infância; o apego ao padre da região, entretanto, demonstrado logo no início do filme parece sinalizar que a fé tem seus mistérios insondáveis, uma vez que essa devoção e apego serão, futuramente transferidos para Cristo, no voto que faz ao se tornar freira de reputação inabalável na congregação, mas logo desviados para a figura do capelão.

III Encontro dos Escritores da Língua Portuguesa de Natal (EELP)

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Eduardo Lourenço Este ano, o  Encontro dos Escritores da Língua Portuguesa de Natal (EELP) acontece de   15 a 17 de outubro de 2012, no Teatro Alberto Maranhão, no bairro histórico da Ribeira em Natal/RN e na Academia Norte-Riograndense de Letras. A iniciativa é da União das Cidades Capitais Luso-Afro (UCCLA), com o apoio da Prefeitura do Natal, por meio da Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte) e da Academia Norte-Riograndense de Letras. O evento já se realiza desde 2010, quando teve sua primeira edição no mesmo local em que será sediado este ano. O segundo Encontro, que ocorreu ano passado, foi sediado na Academia Norte-Riograndense de Letras. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas on-line ( aqui ) ou presencialmente na Funcarte,  situada à avenida Câmara Cascudo, 434, Cidade Alta. A programação deste ano é marcada por vários pontos altos como as presenças de escritores como Eduardo Lourenço, Inês Pedrosa e o moçambicano Mia Couto, que ve

Diagramas do humano constelam Ceará Mirim

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Por Márcio de Lima Dantas   Uma assinatura escritural Walter Benjamin, no ensaio “A imagem de Marcel Proust”, relembra que todas as grandes obras literárias ou inauguram um gênero ou o ultrapassam. Esse caráter de excepcionalidade de um texto adequa-se muito bem a um nosso arremedo de classificação dos textos que compõem o livro O Céu do Ceará-Mirim . Tal fusão de gêneros diversos já havia se manifestada no livro O Spleen de Natal , no qual poucas vezes a linguagem advinda do jornalismo, tradicionalmente vinculada à função referencial da linguagem, adquiriu, por meio de vários artifícios estilísticos, uma dimensão estética consubstanciada em uma dicção que ostensivamente (e naturalmente) faz irromper a função poética da linguagem, que, em certas passagens de alguns capítulos, passa a ser a dominante. Com efeito, aqui neste livro, é quase impossível não detectar um modo pertencente ao sistema literário: memorialística, crônica, poesia, autobiografia, confissões, ou reflexões

Aliyah, de Élie Wajeman

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Por Pedro Fernandes Quem nunca terá sido tomado pela ideia do fracasso e que as coisas não se passam bem em determinado lugar e que o futuro é bem longe de tudo? Todos já terão, em algum momento das suas vidas, dito a singular frase de que gostaria mesmo de está numa ilha, onde não pudesse ser visto por ninguém, num total anonimato. O sentimento existencialista que, em sua boa parte, não provoca outra reação se não a de permanecer onde estamos e, o muito que fizermos, será ir a uma festa, ler um livro, ver um filme para supri-lo, ganha motivação quando, externamente, a sua situação não é tão desajustada quando o sentido de pertença. Noutros casos não há necessidade nenhuma de ter crise de pertença, é sim, a tal situação externa que lhe obriga uma tomada de rumo. Em Aliyah , Élie Wajeman explora minuciosamente o último caso colocando em cena a personagem de Alex, um jovem parisiense de 27 anos que, sentindo-se inútil com a vida que leva, decide, depois de uma conversa com