Ilustrações de Édouard Manet para Allan Poe



Egar Allan Poe em desenho de Édouard Manet


Edgar Allan Poe terá sido o vício da admiração para muitos grandes escritores: cá, no Brasil, sabemos do apreço de Machado de Assis e Haroldo de Campos que resolveram fazer uma tradução d’O corvo; em Portugal ninguém menos que Fernando Pessoa; na França, Baudelaire e Mallarmé se apaixonaram por sua obra assim que a conheceram.

No caso do segundo poeta, ele trabalhou quase uma década dedicado à tarefa de traduzir os versos do americano, que foram sendo publicados esparsamente na imprensa francesa e, por fim, organizados num livro que teve desenhos, retratos e vinhetas de Édouard Manet, no final do século XIX.

As ilustrações, além de serem as primeiras da relação Mallarmé-Manet, que em 1887, publicariam “L'aprés-midi d'un faune”, poema do poeta francês ilustrado pelo artista, inauguraram uma nova expressão pictural e poética na poesia de vanguarda moderna, que surgia cheia de reinvenções propondo misturar-se a elementos do tipo e recebendo influências diretas de outras linguagens, como o cinema, a fonografia, o rádio.

Mallarmé por Édouard Manet, 1876

Em Os anos de exílio do jovem Mallarmé, de Joaquim Brasil Fontes, ele conta da resistência que a tradução de Poe por Mallarmé teve para alguns editores: “Lamerre, depois de a ler, declara a tradução ‘absolutamente obscura’.”* E houveram outros fracassos até que o editor Richard Lesclide, um dos pioneiros do livro-arte na França resolveu publicar O corvo numa pequena tiragem de 200 exemplares.

Um dos desenhos de Gustave Doré para O corvo.

O livro foi ignorado pelo público. O poema transmutado na prosa, como era a tradução feita por Mallarmé e as ilustrações de Manet, para olhos acostumados com o verso e os detalhes do trabalho de Gustave Doré, teriam sido dois dos empecilhos para o devido sucesso da obra.

Édouard Manet, que largou o itinerário bem sucedido na advocacia seguido pai e herdado do avô para entrar para a marinha naval, compôs o conjunto de ilustrações buscando reinventar/modernizar o aspecto sombrio e sisudo herdados do romantismo para as ilustrações que até então circulavam no seu tempo para o poema de Poe.










Notas:

*FONTES, Joaquim Brasil. Os anos de exílio do jovem Mallarmé. São Paulo: Ateliê, 2007.

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