William Faulkner e o cinema
Para William
Faulkner a visão sobre o mundo do cinema foi dolorosa, chata e, finalmente,
acabou cansada. Ele até tentou usar o cinema como uma forma de ganhar seu
sustento (afinal no começo nunca logrou muitos louros como escritor), mas a
sétima arte quase o devorou entre os anos 1930 e 1940. E desde então, sempre
lutou contra sua maquinaria. É lendária a história sobre o encontro do escritor
com um executivo da 20th Century Fox.
O escritor passeava
pelos arredores do escritório dos diretores no campus central quando o
executivo se cruzou em seu caminho e lhe perguntou o que fazia. Nada. Não tens ideias? “Sim”, respondeu o
escritor, “mas as escreveria melhor em mina casa que num escritório de direção”.
O executivo contentou-se com a resposta e o permitiu ir... sem suspeitar que
Faulkner não se referia à sua casa em Hollywood, mas ao seu lugar em Oxford,
Mississípi.
Outra anedota que contam é a do encontro entre o escritor e o ator Clark Gable, indiscutivelmente o galã da época. Gable teria perguntado "Muito bem, Sr. Faulkner, o que faz para viver?" E ele muito sério respondeu, "Escrevo romances. E o senhor?"
Fato é que, o Prêmio
Nobel nunca se adaptou essa rotina levada por outros escritores. “Eu sou um
fazendeiro que conta histórias”, se defendia. Nunca pensou que seu talento
serviria para algum brilho. Mas, com todo esforço, ainda escreveu seis
roteiros, cinco deles para um gênio da sétima arte, Howard Hawks (Vivamos hoje, Caminho da glória, Uma
aventura na Martinica, À beira do
abismo e Terra dos faraós) e
ajudou em vários outros trabalhos, junto com Raoul Walsh ou John Ford.
Cenas dos filmes roteirizados por W. Faulkner |
Além disso,
Hollywood serviu-lhe para fazer grandes amizades mediadas pela bebida, tais
como com Humphrey Bogart e o já citado Howard Hawks, um par de almas gêmeas muito
próximas nos gostos (não só na bebida) e, por que não dizer, um tanto
dependentes desse universo complexo do cinema. Essa convivência terá mesmo
respingado na obra do escritor, pouco, porque parecia-lhe mundos tão
independentes, mas ainda assim presente; da mais de uma centena de contos de
Faulkner, um, “Terra dourada”, se passa na meca do cinema.
Em injusta correspondência,
nenhuma das adaptações de obras de Faulkner está a altura do autor. Talvez Martin
Ritt tenha sido quem mais se aproximou com O
mercador de almas (1958), embora não estivesse muito brilhante em A fúria do destino (1959). Na tela,
nunca podemos viver com gosto o condado de Yoknapatawpha, e para as novas gerações,
Faulkner é esse personagem secundário rebatizado como W. P. Mayhew em Barton Fink.
O que terá feito o filme de 1958 tornar-se o mais reconhecido? Simples! O empenho do diretor e um elenco de peso encabeçado por Paul Newman, Joanne Woodward e Orson Welles. Outros títulos, produzidos nos anos mais sofríveis de Faulkner em Hollywood como À beira do abismo e Uma aventura na Martinica terá ganhado algum destaque; o primeiro é baseado num romance de mesmo nome do reconhecido Raymond Chandler e o segundo no texto de Ersnet Hemingway, Ter e não ter.
Como roteirista, além dos filmes citados no texto, Faulkner escreveu Navio negreiro (1937), filme dirigido por Tay Garnett e com Warner Baxter e teve adaptado para o cinema, da sua obra, Levada a força (1933) por Stephen Roberts a partir de Santuário; O mundo não perdoa (1949), de Clarence Brown a partir de O intruso; Almas maculadas (1958), a partir Pylon, por Douglas Sirk; e Os rebeldes, por Mark Rydell e baseado em Os desgarrados.
* Este texto existe a partir de notas coletadas em "Plagiando a Faulkner", de Gregorio Belinchón, El País.
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