Adeus Berthe ou o enterro da vovó, de Bruno Podalydès

Por Pedro Fernandes




O que é a morte? Um ‘pif’, ‘paf’, ‘psit’. A resposta bem humorada é a encontrada por Armand quando sabe da morte de sua avó e vai até o asilo onde ela viveu por bom tempo em busca da causa mortis. Não apenas disso, mas em redescobrir quem era mesmo Berthe.

A morte talvez seja o acontecimento que mais leve as pessoas a refazerem seus trajetos de vida, afinal, a dor da perda, ainda que ela esteja camuflada, como parece ser o caso neste filme, é capaz de propiciar um repensar sobre o que foi feito e o que estão fazendo com a própria existência que, no virar da próxima esquina pode também está desfeita. O significado da perda de um parente próximo é talvez o instante maior de se questionar sobre a vida e, em boa parte dos casos, um reencontro com a sorte de viver.

O filme é uma divertida comédia com um tema sério e caro de se pensar, mesmo sabendo que é um estágio pelo qual todas as criaturas viventes um dia passarão. Não apenas o desenvolvimento do tema é aí conduzido pela leveza já apontada pela crítica como característica central dos últimos filmes de Bruno Podalydès, mas o estar, pela primeira vez numa situação na qual o sujeito é totalmente dependente das decisões alheias, desde a contratação dos serviços para o funeral. 

Se a morte pode ser um evento de reencontros,  é também este um filme que prima pela ideia: o reencontro do neto com a avó, de quem herdou o gosto pela magia, o reencontro do marido com sua mulher, o reencontro com a família, o reencontro da morte com o nascimento. Isto porque, Armand há muito que não tinha nenhum contato com avó, vive um casamento de longa data ameaçado por uma paixão que ele vai desenvolvendo por Alix no percurso de providência do funeral, a proximidade com seu pai e com seu filho mais velho, Vicent, um tanto desgastada renasce e ainda Armand está nos preparativos para o aniversário da filha.

Tão caro quanto enfrentar a morte e cuidar de um funeral – para este último, até no sentido financeiro, afinal é a sogra de Armand quem decide por uma celebração pomposa – é saber ainda da decisão final do morto: enterrado ou cremado? A intensa vida de Berthe registrada nas cartas e cartões postais escritos para um mágico, seu grande amor, dará a resposta para a decisão de Armand, aliás, um indeciso nato, já que todos os reencontros que citamos antes são resultados de indecisões suas no passado: separa ou não da mulher para viver com Alix, é mais enérgico com o filho Vicent e seu vício pelos games ou não e, por aí vai. Pode-se mesmo dizer que o encontro com a morte da vó seja ainda um marco para uma vida de atitude.

Ao contrário do que sondará alguns, que este filme padece da verborragia francesa, discordamos: é produto de um cinema para o qual a palavra ainda é instância necessária para o enforme da narrativa e que nem só de situações escabrosas e forçadas a custo alto vive o humor.


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