Rock e Literatura
Por Pedro Fernandes
The Doors. O nome da banda foi revelado a partir de As portas da percepção, de Aldous Huxley. |
Dias desses estive por aqui organizando uma curta playlist
de algumas músicas que foram inspiradas em alguns dos mais famosos clássicos da
literatura. Hoje, Dia Mundial do Rock, voltei a ela para ver uma coisa: quantas
das músicas ali indicadas são de grupos do gênero.
Antes de responder a observação, que seja feito um curto parêntese aqui para justificar que as duas coisas têm,
na gênese um princípio em comum. Afinal, a grande característica que define o
literário é sua capacidade de transgressão. Logo, cá, eu pergunto, que outro gênero
musical mais se define pela ideia que não o rock?
Até quando algumas bandas se
baseiam numa hermenêutica da música, isto é, quando algumas bandas se deixam
guiar apenas pela fúria adolescente e propõe revoluções no plano estético do gênero
a que pertencem, até nesses casos, rock liga-se à literatura. Logo, não dá para
reduzir-se na ideia de adolescente de ensino médio de que o único gênero que é
por natureza, literário, seja a MPB. Evidente
que, estou longe aqui de estabelecer determinados ranques entre uma coisa e
outra.
Mas, haveremos de reconhecer determinadas relações.
O fascínio dos Beatles por Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol, serviu para a composição de várias letras. |
Agora, deixem que eu volte à curta playlist que postei ao
tratar da relação literatura e música. A resposta é bastante óbvia: quase cem
por cento das indicações são do rock. E verão os mais roqueiros que eu que as
grandes bandas que estão na lista das bandas-cabeça têm na literatura os dois
pés. Muitas terão utilizado os livros como suporte para lhe dá o nome pelo qual são
tratadas.
Estão aí The Doors, nome feito a partir de As portas da percepção de Aldous Huxley, Soft Machine da obra de
William Burroughs, The Fall de A queda,
de Albert Camus, Steppenwolf, nome herdado de O lobo e a estepe, de Herman Hesse, The Triffids, inspirado em
romance The Day of the triffids, de
John Wyndam...
No Brasil, exemplo é o do Barão Vermelho, que teve o nome inspirado
de uma tirinha do Snoopy e do Charlie Brown.
Ainda entre os grupos estrangeiros, Daniel Benevides, num post para o Blog da Cosac Naify e, de onde fui buscar bases para
escrever esta post, apresenta a novidade polonesa Bruno Schulz, inspirada
diretamente no autor de Lojas de canela e Sanatório. E por aí vai.
Deixo agora, para os leitores/ ouvintes, uma segunda listinha:
1. Led Zeppelin – Misty Mountain Hop, inspirada na trilogia O senhor dos anéis, de J R R Tolkien;
2. Sheryl Crow – All I wanna do, inspirada no poema “Fun”,
de Wyn Cooper;
3. Rolling Stones – Sympathy for the Devil, inspirada em O mestre e a Margarida, de Mikhail
Bulgákov;
4. The Police – Don’t stand so close to me, inspirada em Lolita, de Vladimir Nabokov;
5. Coldplay– Clocks, inspirada na obra Willian Tell,
de Friedrich Schiller;
6. The Beatles – The fool on the Hill, inspirada em Tom Jones, de Henry Fielding;
7. Iron Maiden – To tame a land, inspirada em Duna, de Frank Herbert;
8. Metallica – The call of Cthulh, inspirada na obra
homônima de H. P. Lovecraft;
Bônus
Acresçam às oito faixas, dois álbuns que foram integralmente
inspirados em livros: Animals, de Pink Floyd, inspirado na Revolução dos Bichos, de George Orwell e
Haunted, de POE, inspirado em House of Leaves, de Mark Z. Danielewski.
O álbum do Led Zeppelin que traz a faixa “Misty Mountain Hope”,
Led Zeppelin IV, tem várias outras
faixas inspiradas na trilogia do Tolkien.
Já o Iron Maiden tem várias músicas
inspiradas em outros clássicos, como O
fantasma da ópera, O nome da rosa,
em poemas de Coleridge, Lord Tennyson...
E, para findar, o álbum Magical Mystery, dos Beatles, onde está
a faixa “The fool on the Hill”, tem ainda “I am the Walrus”, inspirada em Alice no país das maravilhas, de Lewis
Carroll.
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