Os desenhos de Bruno Schulz
Bruno Schulz. Autorretrato, de 1919 |
Antes de escrever, Bruno Schulz, foi pintor. Em 1914,
interessou-se pelas artes plásticas e chegou a frequentar a Escola de Belas Artes em
Viena. Durante o regime nazista
tornou-se professor de desenho, profissão que deixou de exercer em 1941, quando se
iniciam as maiores represálias do regime alemão em Drohobycz: todos os judeus
entre 16 e 65 anos são obrigados a trabalhar para os alemães; condenados ao
trabalho forçado e aos guetos.
Schulz, como judeu, e numa tentativa de fugir das perseguições, vai morar nas ruínas de uma casa
abandonada com os familiares. É quando conhece Feliks Landau, um soldado do
regime, mas bastante interessado no trabalho artístico de Schulz e que se aproveita
de suas qualidades e da situação para que realize a pintura de murais nas paredes da casa do
seu filho pequeno. Esses murais foram levados em 2001 para Jerusalém sob alegação
de mandado pelo governo ucraniano.
De modo que, a relação de Bruno com as artes plásticas foi
mais intensa do que a própria literatura. Seus trabalhos são avaliados pela
crítica pelo emprego original de elementos de épocas antigas e recentes, como
rococó, as influências do traço de Goya e Rops. Tem interesse por retratar as
vivências mais fortes, os sonhos fantásticos e o caráter de sua obra plástica já
possui um rico movimento narrativo.
Bruno Schulz. Do livro da idolatria 2. 1920. |
Bruno Schulz. Erótico. 1916. |
Perguntado sobre este fator, pelo jornal O Globo ao tradutor de Schulz para o
português no Brasil, Henriyk Siewierski – o autor teve recentemente publicada
uma edição completa de suas ficções pela Cosac Naify – cita uma carta dele a
Witkacy em que fala do início dos seus desenhos, “cobria todos os papéis e
margens dos jornais com rabiscos que chamavam a atenção das pessoas da casa”,
quando ainda não falava, o que leva Siewierski concordar que, “Não foi,
portanto a palavra, mas a imagem que estava nas origens da sua experiência do
mundo”.
Os rabiscos de Schulz “vão encontrar a sua continuidade tanto na obra
gráfica como literária em formas de expressão que se conectam a inconsciência,
como a musicalidade, a poeticidade, o grotesco, as visões da degradação. Ao
representar o mundo de uma forma legível, o artista não vai se livrar do poder
de um elemento irrepresentável.
O que mais chama a atenção na sua obra gráfica,
tirando os desenhos ilustrativos da sua prosa, são imagens de degradação que
remontam a tradição do grotesco do fim do século XIX, com o seu fascínio pela
feminilidade demoníaca, sua exploração artística o sadomasoquismo.” E finda
fazendo uma relação com a obra de Franz Kafka, de quem Schulz traduziu para o
polaco, O processo: “Enquanto na obra
de Kafka a ameaça da degradação vem da máquina burocrática totalitária, a prosa
e os desenhos de Schulz apontam o escapismo e sadomasoquismo como o perigo para
a integridade humana, para a cultura.”¹
Bruno Schulz. Encontro. Não datado. |
Notas
1 Parte importante dos trabalhos artísticos de Bruno Schulz estão numa página na web
publicada ainda em 2007; a coleção de desenhos aí exposta é de onde saíram as artes que ilustram esta post. No arquivo online, os trabalhos estão agrupados em quatro sessões que incluem
obras do período de 1920 a 1938, inclusive parte dos quadros de pessoas
compostos principalmente durante o regime do gueto (aqui).
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