Ensaio para uma apresentação do "Caderno de desenhos", de Márcio de Lima Dantas
Por Pedro Fernandes
Não
faz muito tempo que saiu por aí e por aqui deve voltar a sair em breve, agora
que temos uma espécie de coluna para casos do tipo, desenhos de Elizabeth
Bishop, Sylvia Plath, Ferreira Gullar e Carlos Drummond de Andrade (desse falamos em primeira mão e até editamos uma amostra). Todos os que escrevem
tiveram ou têm, não raras vezes, oportunidades para um passatempo a compor
garatujas que podem, se for o caso, serem aperfeiçoadas e ganhar a delicadeza e
o traço profissional, como é patente nos desenhos dos dois primeiros nomes
citados.
Fato
é que, o desenho deve ser a forma de expressão poética mais antiga do homem. Ainda
quando sequer sabia fazer uso da linguagem como vimos aperfeiçoando nesse
itinerário em que a espécie se constitui sapiens
e, logo, ainda quando nem imaginávamos o trabalho com a palavra escrita, mas já
o espírito da poesia habitava essas paragens, fazíamos caricaturas nas pedras,
no corpo, como signos de registro ou de celebração.
Tudo
isso serve para dizer duas coisas: primeiro, o desenho é também forma de arte e
tem uma proximidade histórica muito própria e saudável com a poesia. A voz
poética prima pela concisão e pela precisão, o desenho também. A concisão e a precisão
primam pelo detalhe e tanto a poesia quanto o desenho também podem ser
alinhados por ele.
Segundo
é que Márcio de Lima Dantas, um dos nomes mais promissores da cena contemporânea
da poesia potiguar, o autor de livros como Metáfrase,
O sétimo livro de elegias, xerófilo e Para sair do dia, este aqui duas vezes premiado, o autor de
trabalhos de fôlego em torno de João Cabral de Melo Neto e de Orides Fontela,
este poeta, decidiu, como fizeram aqueles quatro primeiros, apresentar seus
desenhos em público. Publicado numa tiragem eletrônica, Caderno de desenhos, encartado no número 5 do caderno-revista
7faces, é mostra significativa dessa constatação, que não me foi espanto,
descobri muito recentemente.
Dois desenhos inéditos de Márcio de Lima Dantas que integram o encarte Caderno de desenhos, encartado na edição de número 5 do caderno-revista 7faces |
São
dois itinerários ensaiados por Márcio: um, “marcas de ferro” e outro, “Brasília”.
Em ambos, ele reinventa ou inventa novas possibilidades. Para a série “marcas de ferro” é o desenho livre, para a série “Brasília”,
o artista prefere o traço preciso de um transferidor, todos, feito à mão com lápis.
Como
se fossem garatujas infantis, Márcio traduz o primitivismo como transvaloração
radical da forma para o estabelecimento de uma possibilidade nova de
representação; quer com isso repetir o gesto de poeta que ele é: propor um
rompimento necessário na expressão a fim de refundar espaços, pela revisão, ansiar
o novo, porque a mesmice e o marasmo são duas coisas caras à breve existência do
homem.
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