A prosa de Fernando Pessoa no Brasil e uma arca que são duas

Por Pedro Fernandes

O poeta com Augusto Ferreira Gomes descendo o Chiado. Fonte:  Multipessoa net

Lembra que falamos aqui de dois novos livros vindos a lume em Portugal com contos de Fernando Pessoa? Pois bem, trabalha no silêncio que dele nasce as boas surpresas. É que agora, a Língua Geral deu a conhecer uma edição intitulada Um grande português, contos, fábulas & outras histórias, organizada, prefaciada e anotada por Zetho Cunha Gonçalves, um dos especialistas na obra do poeta português.

O livro que já fora editado em 2008 pela Bonecos Rebeldes (ou pelo menos é protobibliografia do que agora se publica) reúne toda a produção no gênero prosa curta escrita pelo poeta do desassossego, além de traduções que ele fez de contos do escritor estadunidense O. Henry. Sim, Fernando Pessoa ele mesmo também se multiplicou em várias frentes. Anotaram? Poeta, prosador e tradutor. E, certamente, outras mais ainda existirá.

O livro é um achado na bibliografia brasileira que tem se limitado a curtas edições da poesia e algumas más elaboradas antologias que do conceito que preenche o termo pouco ou nada têm. Além de ser uma possibilidade de ter juntos quase todos os trabalhos do Pessoa prosador, que não se limitou aos contos, às fábulas e às traduções agora apresentadas, também escreveu roteiros de cinema, textos publicitários e fez várias outras traduções, o livro preenche uma lacuna de um Pessoa pouco conhecido do leitor brasileiro. Anotaram? Poeta, prosador, tradutor, publicitário e roteirista. E, certamente, outras mais ainda existirá.




Mas a publicação está longe de esgotar toda produção literária no gênero escrita por Fernando Pessoa. No último dia 13, foi noticiada a descoberta de um novo espólio do poeta português por um grupo de investigadores coordenados pelo professor colombiano Jeronimo Pizarro; apaixonado - sim um pesquisador pode ser isso - ele parou a vida no seu país para cuidar dessas pesquisas em Portugal.

Os inéditos apontados vão de críticas ao salazarismo a escritos em prosa de Álvaro de Campos e, muitas, mas muitas folhas dispersas guardadas na Biblioteca Nacional. O professor garante que as descobertas são fontes de trabalho para no mínimo 40 ou 50 anos de investigação. Pelo que se vê os pesquisadores estão agora diante de uma nova arca, nome dado ao baú onde Pessoa limitou-se a guardar seus escritos. Poeta, prosador, tradutor, publicitário, roteirista e articulista. E, certamente, outras mais ainda existirá.

Alguns dos trabalhos editados no livro que agora se publica podem ser lidos no Arquivo Pessoa - Obra aberta (aqui), como o conto O banqueiro o anarquista, tido pela crítica como um dos textos no gênero mais bem acabados, além Crónica decorativa, Fábula e Na farmácia do Evaristo, entre outros. 

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