Ulisses, de James Joyce ilustrado por Henri Matisse
Já que o assunto por aqui hoje é ilustração, anote mais essa: o Bloomsday, ou Dia de Bloom, o até então feriado literário mais importante do mundo, já passou, mas continua rendendo. Insuperável esse James Joyce. Agora, vem a lume um conjunto dos desenhos feitos por Henri Matisse em nos anos 1930.
Por esse época, George Macy, fundador do clube Limited Editons, ofereceu a encomenda sob a quantia de cinco mil dólares para que o artista plástico francês criasse gravuras para uma edição especial do clássico de Joyce. Ulisses aparece em várias publicações esparsas, já motivos de censura nos Estados Unidos por isso, entre 1918 e 1920; o romance, como se sabe, só ganha a primeira edição em 1922 pela francesa Shakespeare & Co. Enquanto isso, na terra do Tio Sam, o livro permanecerá proibido até 1934.
Sabe-se que Matisse não chegou a ler o livro e os temas que compôs foram com base no poema épico de Homero, a Odisseia, poema, aliás, admitido pelo próprio Joyce como matéria para composição do seu romance. Fato é que Macy está certo ao identificar no artista a figura em destaque do modernismo europeu para a empreitada.
Então, em 1935, uma edição ilustrada do livro do escritor irlandês era impressa. Contava com introdução de Stuart Gilbert e seis desenhos. Matisse assinou as 1 500 cópias feitas da obra, mas Joyce, quando soube que o artista não lera o romance, conta-se, parou no exemplar 250.
O mítico design Nausicaa de Matisse foi gravado em dourado na capa; exibem-se quatro nus bem torneados encerrados numa esfera limitada por algarismos romanos formando um relógio celestial. Quando a proposta lançada aos dois mais importantes nomes de vanguarda vivos, Joyce pode ter ficado empolgado com a ideia e preocupado que o ilustrador não conseguisse acessar aos motivos irlandeses do livro, solicita o envio de cópias de jornais ilustrados de Dublin a Matisse.
Bom, não apenas o escritor irlandês se sentiu insatisfeito com o trabalho. John Ryder, quem projetou a edição de 1960 do Ulysses para The Boodley Head chegou a admitir que esse livro de Macy tratou-se de uma farsa editorial, opinião, é claro, nem sempre compartilhada por todos que nele vêem um objeto de luxo e uma obra de arte expandida naquilo que é o próprio romance de Joyce.
Artistas importantes ilustrando grandes obras sempre existiram. Quem não lembra do trabalho de Salvador Dalí para Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, divulgada em novembro do ano passado? A edição foi publicada em Nova York em 1969 contendo 12 heliogravuras, uma para cada capítulo do livro e uma gravura original assinada para o frontispício. Mas isso é assunto para uma próxima post.
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