Exposição “Intracenas”, do artista plástico Mauro Silper

Mauro Silper abre exposição Intracenas, em Belo Horizonte. Foto: site do artista plástico


Com o título de “Intracenas”, que significa estar no âmago, no interior, dentro da cena, ao ponto de uma se ligar à outra em composições e intenções, o artista plástico Mauro Silper, autor de um conjunto telas compostas a partir da obra de José Saramago e publicadas na edição especial do caderno-revista 7faces Variações de um mesmo tom: diálogos sobre a poesia de José Saramago, em julho de 2011, abre exposição individual amanhã, dia 29 de maio, às 19h, na Galeria de Arte Beatriz Abi-Acl, na rua Santa Catarina, 1155, bairro de Lourdes, em Belo Horizonte. A mostra fica aberta ao público até o dia 23 de junho, sempre das 9 às 18 horas, de segunda a sexta-feira, e das 9 às 13 horas, aos sábados.

O artista explica que a ideia — ou inspiração — para criar as obras, todas inéditas, que vão compor a exposição, adveio de uma frase pinçada da letra de uma música composta por Chico Buarque de Holanda, que diz: “A cidade não mora mais em mim”. A partir daí, Silper começou sua pesquisa e acabou por encontrar o elo que liga o tema à linha de trabalho que vem desenvolvendo já há algum tempo, qual seja, abordar as cidades e campos e sua interligação com o homem. O fenômeno da “conurbação”, processo que dá origem à formação das regiões metropolitanas e das megalópoles e ocorre em função do crescimento das cidades, levando-as a se unirem umas às outras, foi registrado pelo artista em aproximadamente 30 obras, entre painéis pintados em acrílica sobre pranchas de Eucatex e desenhos aquarelados feitos em acrílica sobre cartão flexcot.

Mauro Silper considera que as qualidades básicas para se desenvolver uma ideia devem estar prontas e afloradas e que para isso é preciso ter concentração, inspiração e memória. “O que interessa não é o fato, mas a leitura que se faz desse fato”, diz, acrescentando serem imprescindíveis o talento e a autoconfiança, ou seja, “a certeza absoluta de que se é capaz de fazer”.

No cinema usa-se fazer as story-boards que são os desenhos das principais cenas de um filme. Apropriando-se desse método, ele desenvolveu também cenas que falam entre si. Todas as suas obras foram primeiramente esboçadas em miniaturas em preto e branco e depois transpostas para os painéis e papel-cartão, em cores fortes, luminosas e vibrantes.

Quem visitar a exposição perceberá que há uma linha sequencial: primeiro, Silper pintou o silêncio e a paz das montanhas, com sua proteção e isolamento naturais, seguidos pelas cenas da ameaça — ou como ele mesmo questiona se não seria salvação — da metrópole aproximando-se cada vez mais no horizonte de um pacato pedaço de chão.

Algumas cenas registram o êxodo para outros lugares, cada vez mais distantes e pobres: a periferia de onde um dia foi também uma periferia. Novas paisagens urbanas são constituídas, nas quais o encantamento com o progresso e o novo cria a ilusão de uma vida melhor. Todas as paisagens que retratam a fusão de cidades “esmagando” as áreas rurais são imaginárias. Somente um painel tem como inspiração a cidade Belo Horizonte, onde se vê, sutilmente, a Igreja de São Francisco na Pampulha, o edifício Niemeyer na Praça da Liberdade, o viaduto Santa Teresa, a Linha Verde, entre outros pontos referenciais da capital mineira.

Com sensibilidade aguçada para pintar questões sociais, as obras de Silper têm dinamismo próprio, pela combinação de planos e linhas verticais, horizontais e até mesmo curvilíneas e a utilização de tonalidades quentes ao lado de tons mais frios. O resultado são obras perfeitamente harmônicas. No estilo semi-abstrato, Mauro Silper utiliza materiais diversos para pintar, como espátulas, rolo de espuma, cartão magnético, entre outros. Dificilmente usa os tradicionais pincéis. Para conseguir um efeito aquoso em seu trabalho, ele prepara o papel-cartão, molhando-o dos dois lados, para só depois entrar com a tinta, de todas as cores, já que não tem qualquer receio ou pudor em utilizar o vermelho, o azul e outras tonalidades muitas vezes temidas por alguns pintores. “O elemento fundamental da pintura é a cor. É ela que leva o espectador a vibrar diante de uma tela”, diz o artista. O talento de Silper faz com que cor, tom e forma ora se conspiram; ora se rebelam entre si, mas sempre a favor de sua arte. É este o ideário pessoal do artista. “E Deus dá uma ajudazinha”, brinca ele.

A galerista e curadora da exposição, Beatriz Abi-Acl, assim define Mauro Silper: “Às vezes idealizamos, sonhamos e prevemos o nosso universo, secretamente. No caso do artista plástico Mauro Silper, a concretização, que muitos almejam, ele faz sabiamente na pintura. Ele se revela harmônico e docemente denuncia o mundo que estamos inacreditavelmente construindo e desconstruindo para, bem breve, nos sentirmos fora dele.

A pintura de Mauro explode numa combinação de cores, tons, formas e planos tecnicamente perfeitos. É densa sem comprometer a beleza pictórica de sua obra”, afirma ela. E acrescenta: “Aos poucos o artista nos faz descobrir um panorama único que se converge ao sonho ou à realidade. Sua pintura é forte, limpa, expressiva, introspectiva e faz o observador ser andarilho em seus mistérios, seja nas telas ou no simples e delicado papel. Mauro pinta com o coração a voz do silêncio. E é nesta busca de interação com as pessoas que admiram e se apaixonam diante de uma boa obra de arte é que Mauro Silper se despe e se revela como um ser comum”.

Autodidata, Mauro Silper está sempre pesquisando novas técnicas, visitando museus, exposições, conhecendo obras de outros artistas. Independentemente de ter alguma exposição em vista, ele pinta todos os dias. “É o meu ofício”. Com cinco obras no acervo do Museu Histórico Abílio Barreto, em Belo Horizonte, Mauro Silper foi premiado duas vezes pela Associação Paulista de Belas Artes: em 2010, recebeu Medalha de Ouro no XIII Salão da Marinha; em 2009, o Prêmio APBA. Também foi agraciado com Menção Honrosa no XIX Salão Brasileiro de Belas Artes de Ribeirão Preto, SP, em 2010. Ao longo de sua carreira como pintor já participou de inúmeras mostras coletivas e realizou exposições conjuntas e individuais.

Mais informações podem ser obtidas através da Galeria Beatriz ABI-ACL ou do site do artista.


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