E ele nunca sai de moda
Há pouco mais de um ano quando a editora portuguesa Babel aportou em terras brasileiras trouxe algumas novidades; além de uma caprichada edição de Indice das cousas mais notáveis, de Padre António Vieira, também trouxe-nos uma não menos caprichada edição do único livro publicado em vida por Fernando Pessoa, Mensagem: uma edição símile da editada em 1934, um ano antes da morte do poeta. A prova recebida pela gráfica com assinatura do Pessoa e marcação nas 102 páginas do volume e o risco no título original que deveria ser "Portugal" com a substituição por Mensagem foi integralmente fotografada e publicada com a devida pompa pela Babel brasileira.
Depois seguiram-se as publicações de alguns contos também do Pessoa editados em formato de bolso: O banqueiro e o anarquista, O marinheiro e A essência do comércio, as que tive acesso. Todos são trabalhos que não haviam tido até então, pelo que sei, uma ampla estadia em terras tupiniquim. Tudo isso, para dizer que, agora, em Portugal - e é bom que as editoras por aqui se apressem -, chega uma coletânea de contos do autor português, isso depois de descobertas mais coisas em poesia e termos ficado sabendo que Pessoa também escreveu argumentos para o cinema. A coletânea portuguesa intitulada O mendigo outros contos é organizada pela professora Ana Maria Freitas, que tem estudado o espólio do escritor. São cinco contos - O filatelista, Empresa fornecedora de mitos, A perversão do longe, O mendigo e Num bar de Londres. Na mesma esteira dessa edição organizada pela professora Ana Maria, outra recolha de contos, agora sob organização de Zetho Cunha Gonçalves sai; nela se lê três inéditos, A varina e a lógica, O cristão e o católico e Crónica decorativa II. A edição de Zetho intitula-se Contos completos. Além dessas duas coletâneas que saem agora e os esparsos, Fernando Pessoa tem obra do gênero publicada na França: Memórias de um ladrão, Alegações finais, O gramofone e O papagaio.
E saindo do suporte de papel para o digital... Apesar da Biblioteca Nacional portuguesa já ter iniciado o trabalho de digitalização de muita coisa do poeta português, uma equipe comanda pelo professor Manuel Portela da Universidade de Coimbra propõe-se disponibilizar todos os documentos originais do Livro do desassossego.
Intitulado sugestivamente de "Nenhum problema tem solução: um arquivo digital do Livro do desassossego", a proposta anunciada numa comunicação no Colóquio Estranhar Pessoa - Materialidades de Literatura agregará fac-símiles digitais de todos os materiais que dão forma ao Livro, com transcrições destes e ligações com as principais edições portuguesas publicadas entre 1982 e 2010. A proposta inclui uma edição genética e uma edição social da obra do português.
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