Asas do Desejo, de Wim Wenders
Cena de Asas do desejo. O mundo desencantado da imortalidade foi filmado em preto-e-branco. |
Fábula poética sobre anjos coloca a imortalidade em xeque, em favor dos sentimentos humanos
Dos três grandes diretores do chamado "novo cinema alemão" da década de 1970 - os outros são Werner Herzog e Rainer Werner Fassbinder - Wim Wenders foi o que atingiu maior popularidade, até por ter tido a chance de trabalhar em Hollywood. Depois de conquistar os cinéfilos com títulos como Alice nas Cidades (1974) e O Amigo Americano (1977), Wenders foi para os Estados Unidos no início da década de 1980, onde enfrentou sérias dificuldades para rodar Hammett (1982). Em seguida, tornou-se mais conhecido do grande público com o memorável Paris, Texas (1984). De volta ao país nata, gestou sua segunda obra-prima, Asas do Desejo, pelo qual ganhou o prêmio de Melhor Diretor em Cannes (Paris, Texas, levar a Palma de Ouro em 1984).
O filme é protagonizado por dois anjos, Damiel (Bruno Ganz) e Cassiel (Otto Sander), que observam o cotidiano de Berlim no pós-guerra e tentam confortar as almas perdidas e perturbadas. Cansados de sua imortalidade vazia, invisível e despida de emoções, eles invejam os humanos e seus sentimentos, sensações e sentidos - para evidenciar isso, o mundo dos anjos é mostrado em preto-e-branco e o dos homens, em cores. A dupla se entrega a poéticos monólogos interiores sobre a condição de criaturas condenadas a não sentir, apenas pensar, e a biblioteca onde passam horas lendo intensifica a distância entre o intelecto e o coração. Até que Damiel resolve renunciar à essa vida perene para viver um romance e se apaixona por Marion (Solveig Dommartin), uma bela trapezista de circo. Wenders ilustra os devaneios metafísicos dos anjos com passeios de câmera, paciente e contemplativa, por ruas e arquitetura da cidade.
A partir dos anos 1990, o diretor viu sua carreira entrar em um ritmo desigual. Para cada trabalho do nível de Buena Vista Social Club (1999) e Estrela solitária (2005), fez filmes irregulares como O Fim da Violência (1997) e O Hotel de um Milhão de Dólares (2000) - todos resultados de sua segunda estada na América. Seu melhor momento à época foi a continuação de Asas do Desejo, Tão Longe, tão Perto (1993), do remake hollywoodiano Cidade dos Anjos (1998), em que a poesia do filme original deu lugar ao melodrama barato.
* Revista Bravo!, 2007, p.85.
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