Millôr Fernandes

Alguém perguntou no dia da morte de Millôr Fernandes, quem é Millôr Fernandes? A pergunta pode soar como uma dúvida sobre o desconhecimento da figura e, não perdendo esse sentido, mas ampliando-o - se no caso de uma pessoa instruída - soar como um deboche. Diferentemente de muitos escritores, a biografia de Millôr entrega um sujeito que viveu sem arroubos. Talvez eu não tenha autoridade para tanto, mas eu faria a mesma pergunta e com o sentido do deboche: quem, afinal, é Millôr Fernandes. 

O meu primeiro contato com os escritos seus vieram a partir da revista Veja e, ainda adolescente, nunca entendi a sua grafia. Parece que Millôr deu uma pausa por algum tempo no semanário e voltou anos depois. Reencontrei-me novamente com ele novamente aí e já leitor semi-formado, repito, nunca entendi sua grafia. Primeiro porque diziam-me - ou era meu ver que dizia - que aquela mistura de escrita com cartoom - ou seria cartoom com escrita? - era humor. E, se não me engano, homor faz as pessoas rirem. E, não minto, sempre fui incapaz de soltar nem que  fosse um risinho de canto de boca diante dos textos de Millôr. Vai ver que mesmo depois de ter passado por grandes obras literárias eu ainda seja incapaz de ler o humor.

Tanto que, na data da sua morte, foi nota em tudo quanto é rede social, o pesar pela morte do escritor e, mesmo quem não consegue ler uma obra literária digna do nome terá publicado um riso gráfico de um texto de Millôr ou dado os pêsames ao povo brasileiro pela perda de um grande escritor. Perdoem-me, mas parece que esse caracterizador - grande - tem sofrido o grave desgaste que outras palavras de nossa língua têm sofrido ao correr do tempo. É caso semelhante ao gênio. Antes, para sê-lo teria primeiro que o cara fazer uma descoberta tal qual a Teoria da Relatividade de Einsten, hoje nem tanto, basta falar dela com um trocadilho de palavras que subverta a ordem do E=mc² e já será digno o autor de receber o Prêmio Nobel.

Mas, então, para que Millôr, um gênio desse tipo moderno, não se perca do panteão dos gênios, resolvi dá meia volta na web e anotar alguns dados biográficos do escritor humorista - ou seria o contrário - e incluí-los no rol dos escritores aqui no Letras in.verso e re.verso. A inclusão é feita com ressalvas e, antes de passar esses dados, o leitor terá de, obrigatoriamente, ler essa introdução.

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Imagem: Folha de São Paulo


Como qualquer um que queira ser intelectual cá no Brasil, até para os metidos a, ou pseudos, Millôr foi também um faz tudo: jornalista, dramaturgo, tradutor, cartoonista e, inclusive, escritor. Morreu no dia 27 de março, como foi alardeado pela mídia, aos 88 anos.

Deixou publicadas por volta de três dezenas de livros de prosa, três de poesia e um desenhos. Escreveu 14 peças de teatros, cinco das quais nunca foram publicadas. Escreu ainda 11 espetáculos musicais e três roteiros para o cinema, entre eles Últimos diálogos, dirigido por Walter Salles, em 1999. Traduziu obras como Rei Lear, As alegres comadres de Windsor e A megera domada, de Shakespeare, O Sr. Puntila e seu criado Matti, de Brecht, Escola de mulheres, de Molière, A senhorita Tacna, de Mario Vargas Llosa e Fedra, de Racine.

Millôr começou nos jornais ainda aos 10 anos, quando vendeu o seu primeiro desenho para um jornal carioca. Em 1938, entrou para O cruzeiro, onde manteve por 18 anos a coluna "Pif-Paf". Foi diretor por alguns da revista A cigarra. Ao deixar O cruzeiro, em 1962, quatro anos depois Millôr lança o Pif-Paf como publicação alternativa de tiragem quinzenal. Em 1969, participou da fundação de um dos mais relevantes títulos do período de resistência ao Regime Militar, o jornal satírico O pasquim, que durou na sua versão original até 1991, embora o escritor já houvesse saído ainda em 1975. A partir de 2000 fez da web o seu espaço de publicação e de compilação de trabalhos antigos com o Portal Millôr Online.

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