Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica
A dura realidade da Itália do pós-Segunda Guerra vista sob a ótica de um menino e de seu pai
Enquanto Roberto Rossellini é o grande mestre do neo-realismo italiano que surgiu em 1845, Vittorio de Sica é o pai de Ladrões de Bicicleta, que se tornou um marco do movimento e que, mesmo após tanto tempo, comove os mais diversos públicos. Uma das razões do sucesso está na mistura de neo-realismo com melodrama, em que a força dos atores ganha relevo na história e a trilha sonora conduz as emoções.
No pós-guerra, sob a crise de desemprego, Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani) busca uma ocupação para conseguir sustentar sua família. O cenário é a Itália nos anos imediatamente após a Segunda Guerra Mundial. A falta de emprego é generalizada, e a miséria faz os desempregados aceitarem qualquer biscate. Antonio consegue um trabalho, mas logo tem sua bicicleta roubada. Começará o calvário desse homem, que, acompanhado do seu pequeno filho, Bruno (Enzo Staiola), tentará resgatar o veículo.
O roteiro do longa traz a assinatura de Cesare Zavattini, membro do Partido Comunista. Não é difícil ligar esse fato ao final quase trágico do filme, no qual o sistema todo parece rodar em falso, não sair do lugar e alimentar o sofrimento dos mais pobres.
De Sica já construía, naquele momento, a vasta filmografia que o consagraria no futuro, no terreno das comédias dramáticas (como Matrimônio à Italiana, de 1964), outras mais dramáticas que cômicas (Os Girassóis da Rússia, de 1970), ambas com o maior astro e diva do cinema italiano, Marcello Mastroianni e Sophia Loren. Também ator, ele apareceria em mais de 150 filmes, e dai o traço de sua criação ser a dos filmes de ator.
Mas à parte essa enorme lista de criações, é Ladrões de Bicicleta o filme que ele deixou como legado para a humanidade. Mesmo inclinado ao drama pessoal e a dramaturgia típica dos dramas, há aqui imagens fortíssimas, mostrando uma Itália ainda se soerguendo das ruínas, só um pouco melhor do que a mostrada em Paisà (outro de Rossellini, rodado em 1946). Mas, à parte toda a destreza de De Sica e a paisagem romana convidativa ao drama, é o ator-mirim Enzo Staiola na imagem final quem torna esse longa um dos grandes clássicos da história do cinema.
* Revista Bravo!, 2007, p.84.
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