A cidade textual e Fernando Pessoa


Foto: Miguel Manso.


"No prédio em que nasceu, com natural direito a placa comemorativa, vê-se a entrada para uma sociedade de advogados e o rés-do-chão é agora corrido a montras deluxe (Marc by Jacobs, por sinal). [...] Aqui, o poeta de bronze, obra do belga Jean-Michel Folon colocada no largo em 2008, está em pé no seu rasteiro pedestal mas não tem cabeça; ou melhor, a cabeça é um grande livro que tem escrito "Pessoa" na capa. Marina chama-lhe a estátua Facebook." 

(Trecho de "A aldeia de Pessoa era o coração de Lisboa", de Luís J. Santos, caderno Fugas Viagens, jornal Público)


Não foi Fernando Pessoa  o primeiro escritor a compor uma urbe de tinta e papel que vai se firmando ao mesmo tempo como espaço existente e ficcional. Tão longe onde eu possa alcançar no universo literário, a cidade é marca narrativa já desde a Odisseia, de Homero; no escritor grego, inclusive, é a cidade elemento determinante na identidade dos sujeitos. Lisboa, então, exerce um fascínio tamanho sobre os seus visitantes e moradores de visão mais aguçada que não foram poucos os que se aventuraram a redigir verdadeiros itinerários que, na maioria das vezes, pode ser roteiro de viagens sem quaisquer defeitos. É o caso, por exemplo, de José Saramago, que contratado para produzir uma coisa do gênero, foi além e escreveu Viagem a Portugal, publicado em 1980.

Tudo isso serve para dizer de um achado na web que perfaz em três passos principais a Lisboa de Fernando Pessoa. Quem serve de guia é a jornalista e pesquisadora Marina Tavares que descobri juntamente com a matéria nesta semana. Perfazendo alguns passos na urbe digital descubro que Marina é especialista sobre a capital portuguesa e tem já uma série considerável de livros, como Lisboa desaparecida. Ela também lançou recentemente Lisboa nos passos de Fernando Pessoa, edição bilíngue (português-inglês), que inclui em torno de uma centena de fotos e imagens que perfaz um trajeto que começa pela Baixa, passa pelo Chiado, Campo de Ourique e todas as moradas do poeta português. A obra em questão pretende inserir o viajante numa "Lisboa tal como Pessoa a conheceu" - diz a autora.

Sob o título de A aldeia de Pessoa era o coração de Lisboa, Marina acompanha o jornalista Luís J. Santos e perfaz pelo menos três desses pontos para o jornal Público: Baixa, Rossio e Chiado a fim de descobrirem a cidade de Fernando Pessoa.

***

Já que estamos em território português, por lá, está aberto até o dia 6 de maio, sob curadoria do Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith, na Fundação Calouste Gulbenkian, uma exposição que teve sua partida no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Fernando Pessoa, plural como o universo é dedicada ao poeta português e aos seus heterônimos e pretende mostrar a multiplicidade da sua obra. Estão lá poemas, textos, documentos, fotografias, pintura e raridades como a primeira edição de Mensagem, com dedicatória escrita por Pessoa.

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