O novo trabalho de Mariano Tavares
Capa de "Sem parar". Fotografia Renato de Melo Medeiros |
Tendo
iniciado sua carreira em 1994, fez o mesmo percurso que a maioria dos
iniciantes fazem: tocou e cantou em bares e espaços culturais de Assu e Mossoró
- onde é professor de Literaturas Norte-americana e Inglesa na Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN) – fazendo releituras personalíssimas da
obra de artistas como Bob Dylan, Gilberto Gil, Lou Reed, Caetano Veloso, Alceu
Valença, Morrissey, Adriana Calcanhoto, Leonard Cohen, Jards Macalé, entre
outros.
Ao
mesmo tempo em que se aprimorava como intérprete, ele também foi compondo suas
próprias canções, marcadas por uma musicalidade e uma poesia altamente
sofisticadas, de uma beleza e requinte que ultrapassam as fronteiras da música
pop. Fronteiras que também não existem em suas influências, que vão desde
medalhões do cancioneiro popular brasileiro da primeira metade do século
passado – como Lupicínio Rodrigues, Ary Barroso, Nelson Gonçalves, Jamelão –
aos contemporâneos norte-americanos Antony Hegarty, líder da banda Antony and
the Johnsons, e Rufus Wainwright, compositor sobre o qual desenvolve pesquisa
acadêmica. Outras influências musicais, poéticas, estéticas e conceituais de
Mariano foram o movimento tropicalista, ocorrido no Brasil nos anos 1960, e o
músico britânico John Cale, integrante da mítica banda norte-americana The
Velvet Underground, uma das bandas seminais do rock conceitual. O resultado de
todas essas informações foi o elogiado álbum O Sobrado, seu debut,
lançado em 2005. De lá para cá, suas apresentações são marcadas por uma
teatralidade/dramaticidade que encanta pela excelência.
Em Sem Parar, Mariano Tavares
apresenta 11 faixas composta por ele, sendo três em parceria com a poetisa e
atriz Civone Medeiros (“É Dando Que Se Recebe”), com o economista e estudante
de Direito Hugo Vargas Soliz (“It’s Not For Us”) e com o cantor e compositor
Romildo Soares (“Sacrifício”), além de uma releitura de “How Should I Your True
Love Know”, composta por William Shakespeare para o clássico da dramaturgia
universal “Hamlet”. A canção “Sacrifício” também integra o repertório do DVD
“Dos Pés à Cabeça”, do coral Harmus (Fundação José Augusto), que será lançado
ainda neste semestre, do qual Mariano participa como intérprete.
Segundo o próprio compositor, o título
do novo trabalho foi retirado de uma de suas canções favoritas, aquela que abre
o disco, mas também se refere à relação de paixão absoluta que mantém com o
palco e com a canção. De certo modo, diz Mariano, “esse novo cd também quer apontar para o fato de que essa relação,
tão vital e incontrolável para mim, também nunca se interrompe, nunca para,
apesar dos hiatos”. Na perspectiva do artista, “Sem Parar” faz referência “à
continuidade de tudo aquilo que não controlamos no mundo, a natureza, o amor, o
acaso, a beleza, o futuro, a inocência, o sonho, a morte; tudo aquilo que
desliza nos espaços da vida, continuamente, ininterruptamente, sem parar”.
A sonoridade do álbum é propositadamente
muito simples, quase folk, tentando
criar uma atmosfera mais seca com uso de poucos instrumentos, como em “Sacrifício”
(apenas piano e voz), ou “Se Eu Te Chamar de Baby” (apenas violão e voz) - já disponível no canal do YouTube do cantor. No
disco, além de produzir, compor, cantar e tocar violão, Mariano Tavares é
acompanhado pelo pianista, arranjador e co-produtor do cd, Humberto Luiz, pelo
violonista e guitarrista Alison Brazuka, pelo baixista Paulo Oliveira, pelo
baterista Di Stéffano e pelo percussionista Sami Tarik. Duas cantoras da
novíssima geração da música potiguar, Katarina Góis e Simona Talma, participam
do CD dividindo os vocais com ele na belíssima “Não Há Segredo” e na delicada
“Para Onde os Sonhos Vão?”, respectivamente.
Por questões de liberação de direito
autoral, ficou fora de “Sem Parar” uma versão de “Idade de Ouro” (Age d’Or),
poema escrito pelo simbolista francês Arthur Rimbaud, que Mariano Tavares
musicou. Apesar de não figurar oficialmente no álbum, “Idade de Ouro”, em um videoclipe que apresenta cenas do filme “Home Movies” (1938), do fotógrafo e pintor norte-americano Man Ray, um artista que conferiu à
imagem o mesmo nível de beleza, originalidade e transcendência com que Tavares
realiza sua música.
A partir de Março o cd estará disponível
para venda em Natal, Assu e Mossoró, e também na internet através do site da
Livraria Cultura e do site do próprio compositor, marianotavares.com, onde
serão disponibilizadas a agenda de shows que deverão acontecer a partir de
abril.
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