Há literatura nas canções de amor


Por Pedro Fernandes

E como há. O mote para essas notas são na verdade dois: um, celebra-se hoje a data internacional conhecida por Dia de São Valentim; outro, é que o tema vira assunto nas páginas do blog Papeles perdidos. Num texto intitulado "Literatura en las canciones de amor inolvidables", Winston Sabogal, parte do entendimento comum de que há letras de canções de amor que nos agradam por razões diversas, seja por nos revelar (antecipar) algum segredo no rumo desse trilha da vida, seja pelo tom profético assumido por umas, seja ainda por outras ter a capacidade de reproduzir ou iluminar nossas experiências amorosas. Algumas entram em nossas vidas muitas antes de descobrirmos, experimentarmos e compreendermos o que lá se diz e outras parecem ter sido inspiradas pela nossa própria história, concorda o autor. O fato é que nos diversos casos essas músicas parecem ter sido escritas para nós, porque muito de nós aí se diz. Não importa se os críticos vão considerá-las como música boa, regular ou ruim, e se suas letras são de alta ou baixa qualidade literária. Elas existem e se constituem em parte essencial daquela nossa trilha sonora e das linhas literária de nossas vidas.

Sabogal retoma um texto de Marcel Proust, datado de 1893, intitulado Elogio da má música, como sendo um dos primeiros que melhor fizeram uma abordagem sobre essa realidade. O gosto requintado do escritor francês reconhece o caráter misterioso e profundo, bem como o valor e o sentido da música popular; o efeito milagroso de tocar na alma das pessoas, inclusive, contra seu desejo. É Teo Sanz, catedrático em Literatura francesa, quem observa no artigo de Proust um louvável desejo de buscar a verdade: se pode até odiar esse tipo de música, mas não menosprezá-la, porque se toca e canta com mais paixão que as consideradas boas e, sobretudo, porque "é preenchido do sonho e das lágrimas da gente.” 

Mas, a pergunta é, há nas letras dessas músicas, literatura? Sabogal retoma o caso de Bob Dylan que soa a cada ano como candidato ao Prêmio Nobel de Literatura e a conquista, no ano passado, de Leonard Cohen, do Prêmio Príncipe das Astúrias na categoria. No Brasil, perde-se de vista as canções do tipo. Algumas tão refinadas como Bob ou Cohen; outras passam anos-luz deles. Mas, há literatura nessas músicas? Responda o leitor. Eu, prefiro, recortar uma, do Roberto Carlos. Não sei precisar em que lugar ela se encaixa. Mas, tem uma letra e tanto. Aqui, vai na voz do Ney Matogrosso que dá à música o dom dramático que ela tem. 






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