O silêncio da água, de José Saramago
Por Pedro Fernandes Como aquele A maior flor do mundo , que foi, inicialmente uma crônica e depois virou um conto infantil, organiza-se, agora O silêncio da água , um conto infantil oriundo de um fragmento do romance As pequenas memórias . Antecipo, entretanto, que essa caracterização de “infantil” é um tanto quanto discutível por natureza, mas mais ainda em José Saramago, que considera algumas separações um tanto quanto caducas e pensa nas crianças como sujeitos com capacidades tanto quanto de adultas para lerem sobre determinados assuntos e determinadas histórias em determinados formatos. E mais: que os adultos padecem de uma necessidade de ler tais histórias, para, lendo-as, possam se reencontrar com a criança que um dia foram e, nesse movimento, se redescobrirem, inclusive, enquanto adultos. E O silêncio da água está aí como prova disso. Nasce de um romance em que o exercício da escrita – nesse caso, memorialístico – é o de uma volta à infância para reenco