História do cerco de Lisboa, de José Saramago
Por Pedro Fernandes Edição de bolso recém publicada pela Companhia das Letras para História do cerco de Lisboa De braços levantados, com a corda que os ajudara a descer posta em redor do pescoço como sinal de sujeição e obediência, caminharam para o arraial, ao mesmo tempo que davam altas vozes, Baptismo, baptismo, acreditando na virtude salvadora duma palavra que até aí, firmes na sua fé, haviam detestado. De longe, vendo aqueles mouros rendidos, julgaram os portugueses que viessem negociar a própria rendição da cidade, embora lhes parecesse raro que não tivessem aberto as portas para eles saírem num obedecido ao protocolo militar prescrito para estas situações, e sobretudo, aproximando-se mais os supostos emissários, tornava-se notório, pelo esfarrapado e sujidade das roupas, que não se tratava de gente principal. Mas quando finalmente foi compreendido o que eles pretendiam, não tem descrição o furor, a sanha dementada dos soldados, baste dizer que em línguas, nariz