Miacontear - O dono do cão do homem
Antes de adentrar na narrativa de “O dono do cão do homem”, temos, obrigatoriamente, de reparar o jogo semântico elaborado a partir de seu título. O substantivo cão adquire uma dupla via de sentido no mínimo. Ao passo que sugere ser o cão aquele que tem um dono (o homem) sugere ser o homem aquele que tem um dono (o cão). Ao mesmo tempo, tomada esta sentença, pode se referir a uma vida difícil (vida de cão) na posição do cão de domesticador do homem. E esse jogo de sentido dará conta do que propõe a narrativa. Observando certamente a proliferação de mimos do homem para com os cães, mal notadamente do século: os cães como elemento que suprem a carência afetiva da qual padece o homem contemporâneo, cada vez mais isolado, vivendo mundos fechados à convivência em grupo, Mia Couto elabora um texto em que a posição de domesticação do animal é invertida e quem agora é domesticado é o homem em relação às criaturas de quatro patas. Bonifácio é o nome do cão em questão. Caricato nome