Manuel António Pina
“Toda a poesia, e provavelmente toda a arte, toda a filosofia, todas as religiões, são, acho eu, movidas pelas perguntas fundamentais: ‘De onde vimos?’ ‘Para onde vamos?’ E, já agora, também pelo ‘Quem somos?’. Isto é, pelo medo. ‘Riste porque tens medo’, escreve Bataille. Poder-se-ia acrescentar-se: escreves, ou tens fé, porque tens medo. Acho que é Borges quem diz que os temas de toda a literatura se podem reduzir a dois, o amor e a morte. O amor, através do sexo, está ligado ao abismo da origem do ser; a morte ao do seu desaparecimento. É natural que os homens, perante tais abismos, se interroguem e, porque não encontram respostas, tenham medo. Talvez por isso a generalidade das religiões inclua uma cosmogonia e, simultaneamente, concebam um destino: para responder ao medo.” A fala é de Manuel António Pina numa entrevista para o periódico português Visão . Antecede esta conversa a data de recepção do Prêmio Camões. E finda com outros termos que gostaria de destacar antes