O novo livro de Marize Castro


Marize Castro. Foto: jornal Tribuna do norte



A poeta Marize Castro regressa à poesia em livro. Habitar teu nome publicado pela Una Editora é a surpresa (boa surpresa) deste fim de 2011. O novo livro chega dois anos depois de Lábios-espelho. Esta é a sexta obra da poeta que começou a publicar em 1984 com Marrons crepons marfins.
 
Neste percurso, a poesia de Marize Castro se tornou uma das mais importantes da cena literária brasileira contemporânea. Nelson Patriota em nota reproduzida na orelha do novo livro chama atenção para uma poesia “que se alimenta de sua própria substância interior de onde extrai um inesgotável repertório de variações.”
 
E outra vez encontramos, uma poética que, infiltrada na reentrância do corpo, do corpo feito palavra, canta seus afluxos e derivas. Neste livro, todo anseio é por encontrar na reentrância da própria palavra, como se esta fosse a concha que habita a fotografia da capa, uma maneira outra de ser, jamais presa, sempre liberta.
 
Aproveito a ocasião desta notícia catalogada no jornal Tribuna do norte e copio abaixo três recortes pinçados do novo livro.


______
 

haverá homem que não seja colina?
mulher que não seja nuvem?
criança que não seja milagre?
o que o naufrágio fez com eles?
deu-lhes fogo para ficarem belos?
asas para romperem céus?
barbatanas para voos oblíquos?
eu que ainda moro ao lado do mar
e me perfumo para abrir livros
deito entre aves e oro:
que a onda do amor
não adoeça
nenhum caminhante
encontre laços
nenhum rio
estacione.
 
*
 
rastos de homens-aves
revelam: a travessia é longa
 
nesse entrelugar, nenhum forasteiro
caixas-pretas mergulhadas guardam
fragilidades
 
o divino segue pelos arredores
com suas falhas, seus espectros:
 
a boca de Cila, o sexo de Caribdes
 
destroços de vestes
de líquido labirinto
 
restos de escafandros
de um sol
marinho 
 
*

eu nada tenho e nada espero
diz a fêmea com a porta entreaberta
 
no seu quarto de aço ninguém pode entrar
 
em doce ritual, amigas abelhas sobrevoam
sua cama
 
somente a inocência dessas voadoras
acompanhará essa enfurecida dama
ao seu final
 

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #610

Boletim Letras 360º #601

Seis poemas de Rabindranath Tagore

Mortes de intelectual

16 + 2 romances de formação que devemos ler