Guerra e Paz, de Tolstói
Vista lateral de Guerra e paz publicado pela Cosac Naify em tradução direta do russo para o português feita por Rubens Figueiredo. A obra também traz um texto de apresentação do escritor. |
É
sim um grande romance – em todos os sentidos. No tema, na forma e na dimensão do
enredo, 2 536 páginas. É mais um objeto de desejo construído pela Cosac Naify e
que chega ao Brasil, pela primeira vez, em tradução direta do russo para o português. O trabalho
conduzido pelo escritor/tradutor Rubens Figueiredo levou três anos para
concluí-lo.
Agora,
fazer o design de um livro nessas dimensões é coisa para poucos. Ou, coisa para a Cosac Naify. Em texto de Elaine Ramos, responsável
pela arte da casa editorial, publicado no blog da Cosac, registra-se que a dificuldade foi fazer
um livro desse porte se tornar um convite à leitura.
A inspiração veio olhando para as edições
de bíblias – que conseguem condensar suas páginas em grandes volumes compactos
e flexíveis; a partir daí, asas à criação e o resultado foi um livro em papel
espanhol, o bibloprint, um papel que
tem espessura, textura, cor e
flexibilidades ideais para o que os criadores procuravam.
Outro detalhe da obra são as
suas ilustrações: os tomos são marcadas por trabalhos do russo Serguei Adamovitch,
feitas originalmente para uma edição de contos do Tolstói encontrada num sebo
em viagem de férias a São Petersburgo em 2005 (quando a editora já planejava
lançar este livro).
Depois, uma encadernação que se justapõe a esse trabalho de
escolha do papel. A edição da Cosac sai envolvida em capa com material aveludado, fitilho e é acomodada numa caixa plástico que simula o acrílico.
E o resultado são dois volumes de um romance em que o Tolstói
certamente deve ter feito uma longa pesquisa documental e deve ter levado, pela exigência criteriosa que tinha no processo de composição e estruturação da escrita, anos
para concebê-lo. Um desafio para o leitor contemporâneo e um convite a visitar uma das obras fundamentais da literatura universal.
Detalhe de um dos trabalhos do artistia russo Serguei Adamovitch, feitas originalmente para uma edição de contos do Tolstói e encontrada num sebo em viagem de férias a São Petersburgo em 2005, quando a editora já planejava lançar Guerra e Paz. |
E
por falar do plano de construção do romance, uma carta escrita a Sônia Andréievna
Berhs, esposa do escritor, revela o que se passava pela cabeça de Tolstói
quando chegam em Moscou em 1867. Antes disso, o escritor russo já havia
visitado o campo de batalha de Borodinó, onde aconteceu o embate entre russos e
franceses que levou o enfraquecimento do exército de Napoleão.
Bom, feitas
essas apresentações, e diante de um ignorante que não leu a obra do escritor
russo e só admirou-a na livraria, só resta dá voz ao texto de apresentação do
romance pela editora que além de se preocupar com livros em forma arte também se
preocupa com a grandiosidade das obras:
“Milhões de pessoas praticaram, umas contra as
outras, uma quantidade tão inumerável de crimes, embustes, traições, roubos,
fraudes, falsificações de dinheiro, pilhagens, incêndios e assassinatos, como
não se encontra nos autos de todos os tribunais do mundo em séculos inteiros
[...]. O que produziu tal acontecimento extraordinário?”. Empenhado em
responder a esta pergunta, através da busca pela verdade histórica dos fatos, e
em argumentar com os historiadores de sua época, que no seu entender resumiam
os acontecimentos nas ações de algumas figuras poderosas, Tolstói escreveu um
dos maiores romances da literatura mundial. Guerra e paz descreve a
campanha de Napoleão Bonaparte na Rússia e estende-se até o ano de 1820.
Baseado em meticulosa e exaustiva pesquisa – com fontes que vão dos estudos do
francês Adolphe Thiers e do russo Mikháilovski-Danílevsk a testemunhos orais –,
Tolstói reconta os episódios que culminaram na derrota francesa e retrata, à
sua maneira, personagens reais, como o próprio Napoleão e uma série de
comandantes militares.
O projeto amplia a presença de Tolstói direta do russo entre nós. Em 2001, a mesma casa editorial já publicara a tradução da novela Padre Sérgio, O diabo e outras histórias (na coleção Prosa do Mundo, em 2003) e Anna Kariênina (em 2005). O projeto editorial de agora, entretanto, supera tudo o que casa tem em seu catálogo.
* Texto escrito com base nos textos "Produção de Guerra", de Elaine Ramos; "Querida Borodinó,", de Paulo Colonelli. Todos, publicações do Blog da editora Cosac Naify.
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