Um evento de conveniências
Por Pedro Fernandes
Ano passado foi quando a comissão de cultura da Prefeitura
de Natal rechaçou de vez o Encontro de Escritores de Natal para criar o
Encontro de Escritores Portugueses. O evento ganha uma dimensão nacional, mas
perde em programação. Resumindo-se a pequenas mesas em torno de temas pouco
apetecíveis e num horário de vagabunda (para usar aqui de um termo que minha
mãe diria em bom som). Essa é, entretanto, uma impressão que eu tive com
expectador que não teve a oportunidade de participar do evento. Mas, nesse ano,
que me inscrevi duas vezes (e a inscrição não chegou ao destino) tendo que me
inscrever novamente no primeiro dia do evento, a impressão de expectador se
confirma.
Supondo que as coisas devem evoluir em alguma formação nas realizações
subsequentes, era para a segunda edição do EEPLP ter sido, em relação à do ano
passado, um estouro. Mas, o tiro saiu pela culatra. O que vi nesses dias de
evento foram uma gleba de escritores de pouco expressão, mas seguindo o modismo
dos estudos culturais e do entendimento (errado, vou adiantando) de que tudo o
que se escreva do continente mãe e que fale a mesma língua nossa é para ser tratado
com maestria de beleza e riqueza literária. O horário, os nomes e os temas não atraiu
nem os do meio e o resultado foram discursos bolorentos, em tardes enfadonhas,
povoado de êxtases poéticos artificiais. E uma desorganização que partia do
panfleto de divulgação do evento, em que se lê em bom português o nome da
prefeita-borboleta Micarla de Souza como organizadora-mor do evento, como se a
própria fosse a mestra-também-mor da literatura, passava pelo cafezinho (a
falta dele) e da água servidos durante o evento para findar na própria
estruturação e condução das atividades.
Enfim, não gostei. Assisti ao Carlos Reis e ao Manuel Rui
por interesses na figura dos dois. Mas o Gabriel (o Pensador) sequer fui vê-lo
(até porque já o vi outras vezes em eventos do tipo e junto a ele ao roqueiro
Lobão, na lista dos nomes que eu não sei o porquê estão em todos os eventos de
se diz de literatura. Soube que foi um dos dias mais movimentados. Também pudera.
Devem ter comprado os adolescentes das escolas públicas com alguns pontos na
média bimestral ou a obrigatoriedade de escreverem algum blá-blá sobre a tarde
(maravilhosa) com Gabriel (o Pensador).
Fato é que aquele evento sonhado e que ganhava ares de
importância ao calendário da cultura literária no Rio Grande do Norte perdeu-se
de vez e o que restou no lugar dele foi arremedo de conveniências para dizer
uma dimensão engrandecedora de algo falhado já no modelo.
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